Expedito Gonçalves

Quando garoto, ele jogava bola na Praça da Matriz com os colegas num time chamado “Maguari”. Entre os 15 e 16 anos já fazia parte do quadro titular de um dos mais conceituados clubes de futebol da cidade, “O Vianense”. Assim começaria a carreira futebolística do filho da terra, que chegaria a defender as cores de dois dos maiores e mais importantes clubes de futebol do país: o Vasco da Gama e o Santos.

Expedito de Jesus Gonçalves veio ao mundo no dia 31 de dezembro de 1920. Segundo filho do casal Genésio e Maria Raimunda Gonçalves, desde menino foi encaminhado para o ofício de ourives. A intimidade com a bola surgiria aos poucos, nas costumeiras peladas de beira de campo, sempre ao lado do irmão Benedito.

Aos 18 anos, quando Acrísio Mendonça organizou uma delegação vianense, em julho de 1939, para jogar em São Luís, os irmãos Gonçalves foram os primeiros convocados. Na capital, o talentoso zagueiro chamaria de imediato a atenção dos amantes do futebol, em especial do Sr. Valério Monteiro, presidente do Maranhão Atlético Clube. Convidado a fazer uma experiência no MAC, o jovem atleta vianense aceitou o convite.

Expedito se tornou hóspede do próprio Valério Monteiro por quase quatro anos. Como nesse tempo, o futebol maranhense ainda não tinha alcançado o nível atual de profissionalização, a coisa acontecia na base do improviso e dos contratos verbais. Dessa forma, o rapaz começou trabalhando como ourives na joalheria do chefe e amigo, situada na Rua Afonso Pena, enquanto fazia suas excursões amadorísticas no banco de reservas do MAC.  Não demoraria muito, entretanto, para que sua estrela começasse a brilhar.

Brilhando em São Luís – Em 31 de dezembro de 1939, dia em que completava 19 anos, foi escalado para jogar contra o Sampaio Corrêa, arqui-rival do Maranhão Atlético Clube. Sua atuação foi impecável e o MAC venceu a partida. Expedito ganhou o melhor presente de aniversário de sua vida: iniciou o ano de 1940 como titular absoluto do clube que o acolhera. Daí para a notoriedade foi apenas uma questão de tempo. Escolhido várias vezes, pela crônica esportiva, como o “melhor jogador da semana”, título em voga na época, tornou-se campeão estadual em 1943.

Fora dos gramados, o brilhante jogador enfrentava novos desafios. Aos 21 anos, depois de ser convocado para servir o Exército, através de sorteio, Expedito se viu obrigado a trocar o conforto da residência do grande amigo e incentivador, Valério Monteiro, pelo alojamento do 24º BC. O MAC, por sua vez, conseguiria do comando da instituição militar a permissão para que ele pudesse continuar participando dos treinos e jogos oficiais do clube. Três anos depois, já promovido a cabo do Exército Brasileiro, novos e importantes acontecimentos viriam interferir nos destinos do jovem craque em ascensão.

Atleta do Vasco e do Santos – Os grandes clubes do Rio e São Paulo, depois da disputa dos campeonatos estaduais, costumavam fazer excursões pelas capitais brasileiras, para uma série de jogos amistosos. Em 1944, depois de passar por São Luís, o então treinador do São Cristóvão voltou ao Rio de Janeiro, afirmando ter conhecido o melhor zagueiro de futebol do país, no Maranhão. O Flamengo e o Botafogo se mostraram interessados, mas foi o Vasco da Gama quem primeiro tomou a iniciativa de fazer contato com o atleta maranhense. O então major e comandante do 24º BC, Celso Freitas, foi quem lhe transmitiu a boa nova: “Tem um emissário do Vasco, hospedado no Hotel Central, que veio te buscar!”

Na “Cidade Maravilhosa”, ficou como reserva do Vasco até o final do ano, atuando apenas em partidas amistosas. Sua estreia com a camisa alvinegra aconteceu em Juiz de Fora (MG), quando o Vasco jogou contra o Tupi, um dos clubes de maior torcida daquela cidade. Emprestado para um time de Niterói, o Canto do Rio, atuou como titular durante todo o ano de 1945. Em março de 1946, foi novamente cedido pelo clube carioca. Desta feita para o Santos, quando passou a receber um salário de oitocentos mil réis. Expedito conquistou a simpatia da torcida santista em pouquíssimo tempo. Com apenas quatro meses de experiência, a diretoria do Santos decidiu comprar seu passe definitivo do Vasco da Gama. A partir daí, o clube passou a fazer bonito no campeonato paulista.

A aposentadoria – O experiente zagueiro deixou os gramados do futebol em 1954, para se dedicar à sua antiga profissão de ourives. Foram oito anos consecutivos jogando pelo Santos, sendo cinco como titular. Nesse período, o clube conquistou dois vice-campeonatos, em 1948 e 1950.

Durante todo esse tempo de glória, Expedito nunca deixou de passar suas férias no Maranhão. E foi numa dessas vindas, acontecida em 1949, que ele se casou com Maria Joana Carvalho Gonçalves, uma jovem de São Luís. O casal teve dois filhos: Paulo Roberto e Maria de Fátima.

Aposentado e viúvo, o veterano jogador ainda reside em Santos (SP), cidade que o acolheu de braços abertos. Esteve em Viana para rever amigos e parentes, pela última vez, em 1992.

Por Luiz Alexandre Raposo