Olga Mohana

Sua história começou, em Viana, no dia 19 de janeiro de 1933. Era véspera do dia consagrado a São Sebastião e, enquanto a cidade venerava um dos santos mais prestigiados do calendário católico vianense com novenas, missas e festa de largo, D. Anice sofria as dores do parto para dar à luz uma menina que receberia o nome de Olga.

Quinta filha do casal Miguel Abraão Mohana e Anice Mohana, a menina faria parte de uma das primeiras gerações de estudantes que passariam pelos bancos do Grupo Escolar Estevam Carvalho (fundado um ano após seu nascimento), quando a escola ainda era dirigida pela primeira diretora, professa Faraíldes Campelo Silva.

Aluna de outras famosas professoras da época como Edith Nair Silva e Raquima Gomes, a pequena Olga teve de deixar a pacata Viana para morar na maior metrópole da América do Sul, aos 11 anos de idade. Em junho de 1944, em pleno período da II Guerra Mundial, seus pais resolveram se mudar para São Paulo, levando todos os filhos pequenos (com exceção do mais velho, João, por esse tempo já cursando Medicina na Bahia). A viagem, num avião bi-motor de duas hélices, marcaria suas lembranças de infância: de São Luís à capital paulista foram cinco pernoites em cidades diferentes até alcançarem o destino final.

Olga e seus irmãos mais novos foram matriculados no Ginásio Conselheiro Lafayete, enquanto durou a experiência dos Mohanas na friorenta São Paulo. O retorno ao Maranhão aconteceu menos de dois anos depois, em 1946, após o patriarca da família desistir dos negócios em terras paulistas e decidir fixar residência definitiva em São Luís.

Dessa maneira, a jovem concluiu os estudos secundários no Colégio Santa Tereza, para muito depois ingressar na Faculdade de Serviço Social. Graduada em 1964, Olga exerceu por alguns anos a profissão, destacando-se nesta fase o trabalho de supervisão na preparação e transferência da população da cidade maranhense de Nova Iorque para a nova sede, por época da construção e inauguração da Hidrelétrica de Boa Esperança.

A paixão pelo canto – Na década de 50, bem antes de tornar-se assistente social, motivada pelo amor à musica e contanto com o incentivo materno, a jovem vianense havia decidido estudar canto na Universidade Federal da Bahia. Ali, durante o curso, por intermédio de excelentes professores e maestros (entre eles alguns alemães, austríacos e franceses) teve oportunidade de aperfeiçoar sua formação vocal e musical.

A praticidade de D. Anice, porém, sempre alertando a filha de que “canto erudito não dá futuro para ninguém no Maranhão”, a fez se decidir pelo Serviço Social. Assim, enquanto exercia a nova profissão, Olga Mohana encontrava tempo para dedicar-se à arte musical. Admitida para o quadro docente da UFMA, ocupou o cargo de chefe de Departamento de Serviço Social, enquanto dava aulas de canto na antiga Escola de Música do Estado do Maranhão (EMEM).

Época áurea da EMEM – Durante o governo de João Castelo (1978-1982), quando a escritora Arlete Nogueira Machado assumiu a Secretaria de Estado da Cultura, Olga foi nomeada como diretora da EMEM, iniciando-se dessa forma uma de suas experiências mais ricas e profícuas em prol da música maranhense.

Aos 45 anos, no auge de sua capacidade física e intelectual, a nova diretora esmerou-se na capacitação dos jovens músicos maranhenses. Sempre voltada para a qualidade do aprendizado e preocupada não apenas com as verbas, mas principalmente com os verbos, ou seja, os planos, as idéias e as boas estratégias, Olga Mohana soube conduzir a EMEM a um período áureo de sua existência, na opinião de muitos observadores. Professores da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná foram contratados para reforçar o quadro local, além da aquisição de novos e variados instrumentos musicais.

E o resultado concreto de todo esse trabalho e empenho não demorou a aparecer: discos foram gravados e vários concertos de alunos e mestres aconteceram no Teatro Arthur Azevedo, despertando e revelando novos talentos musicais e cantores de alto nível no nosso Estado, a exemplo de Simão Amaral, Lindaura de Carvalho e Núbia Maranhão (entre outros). Foi durante sua gestão, à frente da Escola de Música, que o Governo do Estado adquiriu o histórico Solar da Baronesa de São Bento (à Rua de Santo Antônio) para sediar a instituição.

Discos gravados – Nesse mesmo período, apoiada pelo irmão, padre João Mohana (responsável pela recuperação de 150 anos da música maranhense, através do garimpo sistemático de centenas de partituras), Olga Mohana gravou um LP, registrando para a posterioridade sua bela voz de contralto. No disco, que também recebeu o apoio da Secretaria de Cultura, Olga interpreta quinze composições, todas com o acompanhamento da pianista cearense Mércia Pinto (uma das professoras da EMEM, na época).

Outro importante registro musical da mesma época foi a gravação da “Missa de Antônio Rayol”, a partir das partituras resgatadas pelo padre Mohana. O disco, gravado ao vivo no Teatro Arthur Azevedo, mereceu veementes elogios dos amantes da boa música e até hoje continua surpreendendo aqueles que não conheciam a obra do renomado compositor.

Aposentada há mais de dez anos, a professora Olga Mohana continua recebendo convites para concertos ou para tomar parte em júris musicais. Seu delicado estado de saúde atual, infelizmente, lhe impede de tais prazeres. Sua maior satisfação é saber que seu trabalho, como de tantos outros que a precederam, não foi em vão e que a EMEM (atual Lilah Lisboa, instalada num prédio mais amplo à Rua do Giz) continua cumprindo sua missão de ensinar e estimular as novas levas de jovens talentos desta terra.

Por Luiz Alexandre Raposo