A importância econômica dos insetos


Meninos da zona rural observam folhagem de mandioca, atacada por larvas de pequenas lagartas que depauperam as plantações.

 

A humanidade defronta-se, atualmente, com um dos maiores desafios de toda sua trajetória pela face da terra: a questão ambiental. Como conciliar o progresso e a qualidade de vida, hoje conquistados, com o respeito e a proteção ao meio ambiente?

Tal questionamento, como é sabido, não fez parte das preocupações de nossos pais e avós, visto que até bem pouco tempo atrás a natureza e seus recursos eram tidos como bens inesgotáveis. Certamente por esse motivo esta e as gerações vindouras tenham de encontrar – urgentemente – uma fórmula para equacionar semelhante problema. Como se costuma dizer nos meios populares: “quem chega por último é quem paga a conta”.

Não é necessário acompanhar o que acontece pelo mundo, via televisão ou internet, para constatar o estrago causado pelo homem no planeta. Aqui mesmo em nossa região podemos perceber (e lamentar) essa triste e alarmante realidade. Os vianenses de minha faixa etária foram testemunhas da fartura de peixes no lago (pescados indistintamente em qualquer época do ano) e da quantidade de aves abatidas (marrecas, jaçanãs, japeaçocas, entre outras) que eram vendidas pelas ruas, nas tardes de verão. Hoje, o desmatamento desregrado, as queimadas intensivas (que empobreceram sistematicamente o solo), o aumento da população e o visível processo de assoreamento do lago são resultados concretos e locais que não nos permitem duvidar dos efeitos catastróficos da devastação ambiental tão alardeados pelos cientistas do mundo inteiro.

Em função disso, mídia, governos e entidades ambientais instigam cada indivíduo (esteja ele onde estiver) a fazer sua parte pela preservação da natureza. Até mesmo o conceito moderno de cidadania passou a incluir o respeito ao meio ambiente. Em outras palavras, construir e formar um cidadão requer, hoje, o aprendizado de tudo o que engloba uma sadia consciência ambiental. E é nesse sentido que, como professora e profissional da área das ciências agrárias, pretendo sugerir a inclusão no currículo do Ensino Fundamental das escolas municipais, inicialmente da zona rural, do conhecimento preliminar dos insetos existentes na lavoura vianense e suas principais características.

Por que e como transformar em prática o estudo dos insetos – Considerando-se que a maioria das crianças e adolescentes da zona rural são filhos de pequenos produtores e que convivem diretamente com esses diminutos seres (muitos deles inofensivos e de grande utilidade no contexto agrícola), é importante introduzir o conhecimento preliminar do mundo dos insetos em sala de aula, a fim de que os educandos possam valorizá-los – e quando for o caso – controlá-los, percebendo assim de forma clara sua importância econômica para as áreas agrícola, veterinária ou médica.

Como a Entomologia (ciência que estuda os insetos) é muito vasta, não seria necessário criar-se uma nova disciplina no Ensino Fundamental, mas apenas aproveitar a disciplina “Ciências” já existente na grade curricular, para incluir algumas noções básicas sobre os insetos.

Os professores poderiam receber tais noções, através de um curso de pequena carga horária que poderia ser ministrado por qualquer Engenheiro Agrônomo da Casa da Agricultura Familiar de Viana. Já que a disciplina “Ciências” abrange animais vertebrados e invertebrados, os educadores incluíriam nestes últimos os conhecimentos entomológicos adquiridos, assim como aspectos importantes relacionados ao contexto agrário da zona rural do município.

Levando-se em consideração ainda as doenças causadas por alguns insetos não somente às plantas, mas também aos animais domésticos e ao próprio homem, o estudo contribuiria, com certeza, para a sanidade da região. Aprendendo a distinguir os insetos, o educando aprenderia também a combater aqueles considerados nocivos, provocadores de doenças nos animais superiores e inferiores, bem como exterminar os insetos (pragas) que atacam a agricultura e causam prejuízos econômicos aos produtores.

É diante da necessidade e urgência de melhor conhecer a natureza, a fim de que se possa preservá-la (retirando dela o máximo proveito sem, contudo, acarretar agressões irreversíveis ao meio ambiente), que se impõe como objetivo educacional contemplar a realidade local nos conteúdos dos currículos escolares, garantindo-se assim uma práxis pedagógica mais eficiente.

Por Maria da Graça Mendonça Cutrim (matéria publicada no Renascer Vianense, edição nº 20)