ACERVO SACRO DILAPIDADO

Datada de 03/03/1995, enderecei ao Comitê de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico Cultural, Paisagístico e do Meio Ambiente de Viana uma carta, comunicando o que eu havia constatado na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Viana, por ocasião da missa do 20º aniversário de morte de Dom Francisco Hélio Campos, 2º  bispo desta diocese.

Indo naquela oportunidade à sacristia da referida igreja, onde fazia cerca de 15 anos eu não entrava, deparei, não sem surpresa, com a ausência de uma rica peça que ali existia – uma pia de pedra de cantaria fixada em uma das paredes do cômodo. Em várias igrejas antigas do Maranhão, como a catedral de São Luís e a Igreja do Carmo de Alcântara, existem pias semelhantes àquela.

Igual surpresa experimentou também o Dr. Heitor Piedade Júnior, quando de sua última visita à terra natal. Heitor, como o Padre Cordeiro e eu, trabalhou naquela  igreja e por isso a conhece muito bem. Ele chegou a indagar às pessoas presentes pelo destino da pia em apreço, como pela imagem de Santa Luzia, que não se encontrava no altar de sua antiga capelinha. Diante da constatação acima e por me interessar sobremaneira pela preservação dos bens que constituem o patrimônio histórico de nossa cidade, tomei a deliberação de dirigir aquela carta ao Comitê.

Voltando outras vezes à Igreja Matriz, à qual passei a ter acesso após a deposição e consequente afastamento do bispo titular, Dom Adalberto Paulo da Silva, notei que além da  pia da sacristia, outras peças e até imagens igualmente antigas e preciosas haviam desaparecido dali. Resolvi então fazer um levantamento dos bens por mim conhecidos e que até 1975 foram conservados com o mesmo cuidado com que durante séculos o foram por leigos como Catão Soeiro, João de Parma, Raimundo Pinto, Raimundinho dos Santos, Zezé Couto, pelos padres Barros, Hemetério, Jacinto, Luís Gonzaga, Manuel Arouche e, depois de criada a diocese, pelos bispos Dom Hamleto e Dom Hélio, que trabalharam nesta paróquia e nesta diocese.

Com a devida permissão, fiz o levantamento a que me propuz  Procurei em seguida o pároco, Monsenhor Ângelo P. Borges, que desde 1977 vinha à frente da paróquia e passei às suas mãos uma cópia da relação de peças não encontradas. Depois de acompanhar comigo, na lista, uma por uma, as dezesseis peças constantes da relação, disse não ter conhecimento do destino que tomaram e, revelando de certo modo nem as ter conhecido, declarou que “o bispo Dom Adalberto trazia tudo em suas mãos”. Lembrou-se da imagem da Nossa Senhora dos Remédios e concluiu dizendo que, quanto ao colar ou rosário de contas de ouro recebido das mãos do seu antecessor, padre Odílio, a pedido do bispo, ele lho entregou.

Na carta enviada ao Comitê, narro em parte a história que sei sobre esse rosário de ouro, joia valiosíssima, entregue pelo Monsenhor Ângelo a Dom Adalberto Paulo da Silva. Dom Adalberto, como é de conhecimento geral, foi o autor da venda dos históricos sinos da Matriz  de Viana ao Governo do Estado, o que provocou, na época, um rumoroso episódio de repercussão na mídia nacional.

Abaixo relaciono os bens, os quais compunham um dos mais ricos acervos sacros do Maranhão, conhecidos de todos quantos frequentaram a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Viana ou ali trabalharam antes de 1975 e que, a partir desse ano, desapareceram misteriosamente:

1. Uma imagem grande de madeira de São José (barroca)

2. Uma imagem grande de madeira de Santa Luzia

3. Uma imagem grande de madeira de Nossa Senhora dos Remédios

4. Uma imagem grande de madeira de Nossa Senhora das Dores

5. Uma imagem grande  de madeira de Nossa Senhora do Rosário

6. Uma imagem grande de madeira de São Joaquim

7. Uma imagem grande de madeira de Sant’Ana

8. Um conjunto de pia, de pedra de cantaria, da sacristia da igreja

9. Um outro conjunto de pia, igual ao primeiro (que no passado pertenceu à  Igreja de São Benedito e que se encontrava   no jardim do Palácio Episcopal)

10. Três jogos de castiçais de metal dos altares da padroeira, do Coração de Jesus e de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

11. Uma cruz grande de prata, usada nas procissões

12. Um rosário de contas de ouro, com uma cruz e uma rosa  de ouro

13. Um terço de prata

14. Um crucifixo de marfim

Que a divulgação do criminoso desaparecimento destas peças de tão grande valor, sirvam de reflexão às autoridades competentes e à sociedade como um todo, em especial ao povo vianense e  aos filhos da terra espalhados por todo o país.

Por Padre Eider Furtado da Silva (matéria publicada no Renascer Vianense, edição n° 4)