ANTÔNIO LOPES – Um notável homem das letras

O que segue abaixo jamais deve ser considerado um estudo biográfico de Antônio Lopes da Cunha. Muito menos há de ser visto como análise da produção científico-literária desse ilustre vianense, nascido a 25 de maio de 1889. Dado a que se destina, constam aqui algumas referências ao notável homem de letras, um dos fundadores da Faculdade de Direito de São Luís, em 1918, ao lado de Fran Paxeco, Henrique Couto, Domingos Perdigão e outros, na qual ocupou a cátedra de Filosofia do Direito.

Em 1911, concluído seu curso de ciências jurídicas, na cidade de Recife, voltou a São Luís, onde já residira, em companhia dos seus pais, o desembargador Manuel Lopes da Cunha e D. Maria de Jesus Sousa Lopes da Cunha. Anos antes, seu pai havia sido eleito governador do Maranhão, por influência de Benedito Leite, para cumprir o mandato de 1902/1906. No entanto, já em novembro de 1903, provavelmente por ter resolvido fixar residência no Rio de Janeiro, Manuel Lopes da Cunha transfere a chefia do Executivo a Raimundo Nogueira da Cruz e Castro, pela ordem o 3° vice-governador eleito em sua chapa, uma vez que o 1° e o 2°, respectivamente, Alexandre Colares Moreira Júnior e o Capitão-Tenente Oton Bulhão, se achavam ausentes do Estado.

Foi durante os seus estudos em Recife que Antônio Lopes deu os seus passos iniciais na atividade literária, ao lançar Litania da Morte, a primeira obra de sua produção, diversificada esta em múltiplas facetas, todas de extrema importância. Seguindo esses caminhos, demonstra sua sólida formação cultural, que o capacita a contribuir, sobremodo, para o engrandecimento das letras maranhenses. Aliás, antes, bem antes, segundo nos informa a Editora Civilização Brasileira, na “Nota Prévia” que antecede a “Introdução” de Presença do Romanceiro, ele já havia fundado, em sua terra, a Revista Vianense, ao lado de Mariano Couto e José Belo Carvalho, “manuscrita, em folhas de papel azul de embrulhar rebuçado”.

Josué Montello, ao fazer uma apreciação acerca das atividades do autor de História da Imprensa no Maranhão, talvez convencido da obsessão que este possuía pela imprensa, afirmou: “Tudo o que escreveu, Antonio Lopes disseminou em jornais e revistas”. De fato, suas atividades jornalísticas foram intensas, e seria exaustivo enumerá-las.

Antonio de Oliveira, consagrado escritor maranhense, que ocupou a cadeira n° 30, da Academia Maranhense de Letras, patroneada por Teixeira Mendes, nas páginas introdutórias daquele livro, não poupa elogios ao consagrado homem de imprensa. Assim ele se expressa: “Antônio Lopes foi um jornalista completo. Na“Pacotilha”, no “O Imparcial” e no “Diário do Norte” muitas vezes fazia quase sozinho todo o jornal. Desde o artigo de fundo, versando os assuntos mais diferentes, como política, urbanismo, guerra, literatura ou história . . .” E segue a apreciação, enaltecendo esse grande homem que foi um dos fundadores da Associação Maranhense de Imprensa e seu presidente. Vale ressaltar que os primeiros artigos da lavra de Antônio Lopes foram escritos quando ainda se encontrava ele em Recife, remetidos para publicação no “Diário do Maranhão”. 

No aspecto magisterial, mencione-se sua atuação como Diretor da Instrução Municipal, oportunidade em que introduziu nesse órgão uma gestão mais dinâmica, de alta eficiência, além de imprimir os novos conceitos da Escola Nova. Exerceu, também, mediante concurso, a cátedra de Literatura, no Liceu Maranhense, com a mesma capacidade que o notabilizou na Faculdade de Direito de São Luís, embora naquele estabelecimento de ensino já ministrasse aulas de Geografia e Francês, interinamente, e, depois, Sociologia e Filosofia. A respeito de sua condição de professor, é antológica a crônica que a ele lhe dedica Josué Montello, seu antigo discípulo, contida em “Estampas Literárias”, em que narra o primeiro encontro com o historiador do jornalismo maranhense.

No estudo da História, menor não foi sua contribuição, manifestada através de artigos, ensaios e livros publicados. Estudioso sem concorrente do “Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão”, elaborado por César Marques e publicado em 1870, dele foi um analista de primeira grandeza. Examinou, em detalhes, até quando a saúde lhe permitiu, inúmeros verbetes da citada obra, completando-os e retificando-os no que se fazia necessário, feitura imensa que deixou, salvo engano, ainda manuscrito, e que está a servir para uma agora nova e completa revisão, onde, naturalmente, serão incluídas as observações que deixou. Torna-se indispensável fazer menção a Alcântara – subsídios para a história da cidade, um trabalho necessário, como poucos, para que se possa entender o desenrolar da antiga Tapuitapera, seu apogeu e sua decadência. E assim, muitos outros trabalhos realizou, com absoluta propriedade e desusado conhecimento.

Mais uma rápida abordagem acerca do homem que, embora em período curto, 1926, chegou a ser Intendente Municipal. Fascinou-se pelo folclore, sob o ponto de vista do caráter científico, aliás, seguindo a trilha de Celso Magalhães, seu tio. Publicou Presença do Romanceiro, o mais importante trabalho acerca do romanceiro já publicado no Brasil. Este tema é tão fascinante quanto extenso e merece ser tratado em oportunidade mais adequada.

Antônio Lopes, fundador e secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, faleceu em São Luís, a 29 de novembro de 1950. Imortalizou-se mais pelas obras que nos legou do que por ter ocupado a Cadeira n° 13 da Academia Maranhense de Letras, patroneada por José Cândido de Morais e Silva.

 Carlos Gaspar – É empresário, jornalista e escritor. Ocupa a Cadeira nº 1, da Academia Vianense de Letras, da qual Antônio Lopes é o patrono.