Dom Francisco Hélio Campos

Em 2011, a Câmara Municipal de Fortaleza (CE) aprovou o projeto de lei nº 365/2011, instituindo o ano de 2012, como ano do centenário de nascimento de Dom Francisco Hélio Campos. Proposto pelo vereador Alípio Rodrigues (PTN), a matéria reaviva a trajetória de luta do religioso cearense pelos direitos humanos.

Nascido em Quixeramobim, aos 24 de julho de 1912, o menino Francisco Hélio era um dos sete filhos do casal Francisco Cordeiro Campos e Belarmina Gomes Campos. Criado num ambiente de arraigada fé cristã, muito cedo o garoto decidiu ingressar no seminário, juntamente com o irmão Gerardo José. Suas três irmãs, Hilza, Zilma e Inês, também optaram pela vida religiosa e se tornaram freiras. Ordenado em 5 de agosto de 1937, o padre Hélio Campos desenvolveu trabalhos pastorais  significantes nas quatro paróquias da capital cearense por onde passou, antes de ser nomeado  2° bispo da Diocese de Viana, em 1969. 

Pároco devotado – O sacerdote trabalhou incansavelmente nas Paróquias do Mocuripe, Senador Pompeu e Pedra Branca. Mas foi na Paróquia de Pirambu, assumida em 1958, que ele deixou marcas profundas de sua dedicação aos mais pobres e excluídos da sociedade.

Até então o bairro do Pirambu era tido como “área de alto risco”, em Fortaleza, pelos altos níveis de analfabetismo, marginalidade e prostituição. Em dez anos de trabalhos, tendo por base os princípios da doutrina social da Igreja, padre Hélio Campos conseguiu tirar o Pirambu do obscurantismo, ao lutar pelos direitos humanos daquela sofrida comunidade. Sem contar com a ajuda do governo do Estado, mas apenas com o apoio da Arquidiocese de Fortaleza e de alguns poucos cristãos engajados, o dinâmico pároco elaborou o Plano de Recuperação Social do Pirambu.

O auge do trabalho aconteceu em janeiro de 1962, quando ele liderou uma grande macha dos moradores ao centro da cidade, reivindicando moradias dignas e melhores condições de vida. O êxito desse projeto social foi tamanho, que mereceu reportagens nos conceituados Time, Le Monde, Paris Match e outros veículos da imprensa internacional. 

Pioneirismo espiritual – O padre Hélio Campos foi o primeiro a difundir no Brasil a experiência da fraternidade sacerdotal, inspirada na espiritualidade de Charles de Foucauld, o grande místico francês do catolicismo, o qual pregava como elementos fundamentais do Cristianismo a conversão permanente, a Eucaristia como ponto central, a oração do abandono, o Evangelho da Cruz e a busca do último lugar.

Desse modo, padre Hélio Campos acreditava que a forma mais eficaz de anunciar o Evangelho era agir no anonimato, proclamando o amor de Deus pelos homens com a própria vida. E foi assim que o sacerdote criou, em Fortaleza, os “espiões de Cristo”, aqueles que deveriam se infiltrar no mundo do trabalho subumano, das favelas e tantas outras realidades adversas, nas quais o homem estivesse marginalizado, a fim de trabalhar pela sua libertação. 

Sagração episcopal – No início de 1969, apenas três meses após ser transferido para a Paróquia do Mondubim, padre Hélio recebeu a nomeação como bispo da cidade de Viana, no Maranhão. Era um prêmio pela dedicação irrestrita à causa cristã e a oportunidade tão esperada para pôr em prática, de forma mais abrangente, as resoluções do Concílio Vaticano II.

A ordenação episcopal, realizada no Seminário da Prainha, em 6 de julho de 1969, contou com a presença de uma pequena comitiva de vianenses que se deslocou até Fortaleza para prestigiar a cerimônia religiosa. Menos de um mês depois, no dia 3 de agosto, o novo bispo foi recebido com festas em Viana.

Assumindo desde logo sua opção pelos mais desfavorecidos, Dom Hélio desenvolveu um trabalho não muito bem assimilado por boa parte da população vianense da época. Na verdade, seu novo rebanho não estava preparado para receber um pastor, cuja concepção cristã não lhe permitia aceitar injustiças e desigualdades sociais tão gritantes à sua volta.

Incompreensões à parte, Dom Hélio mostrou sua capacidade de liderança ao lutar com afinco pela resolução do problema da comunicação terrestre com a capital. Logo no primeiro ano de seu bispado, liderou e reivindicou com o povo, junto aos poderes competentes, a construção da estrada Arari – Viana, então considerada a grande redenção dos vianenses e da Baixada Maranhense. 

Epílogo repentino – Lamentavelmente seus planos diocesanos, a médio e longo prazos, não chegaram a ser concretizados, em virtude de sua morte prematura. Vítima de um câncer galopante, diagnosticado no final de seu 5º ano de bispado, Dom Hélio Campos faleceu, em Fortaleza, no dia 23 de janeiro de 1975. Um mês antes, no Natal de 1974, fez questão de vir a Viana para se despedir e celebrar a Missa do Galo. Como já estava no estágio final da doença, veio acompanhado de um médico e uma enfermeira, além de alguns familiares.

Durante a homilia da celebração, Dom Hélio lembrou que aquele era o último encontro com seu rebanho, pois estava ciente da morte iminente. Disse também que estava preparado para morrer e que aceitava a vontade de Deus. Pediu as orações dos fiéis e exortou a união dos lavradores, a fim de que pudessem alcançar a libertação.

Na manhã de seu falecimento, depois de ser velado na Catedral da Sé de Fortaleza, seu corpo foi transportado em avião especial para nossa cidade, onde foi sepultado na então Igreja Matriz, hoje Catedral da Diocese de Viana.

Por Luiz Alexandre Raposo

Lápide do túmulo de D. Hélio