IMAGEM BARROCA DESAPARECIDA DE VIANA

Na fotografia do casamento de Marluce Mendonça e Miguel Roeder, realizado em 1968, uma imagem de um santo destaca-se, ao fundo, em dos nichos da Igreja da Matriz, atual Catedral de Nossa Senhora da Conceição.

Embora um tanto desfocada, em virtude das limitações tecnológicas da época, esta fotografia é uma prova da existência de uma das sete imagens grandes de madeira desaparecidas misteriosamente da referida igreja, no período de 1975 a 1992, quando a Diocese de Viana era dirigida pelo bispo Dom Frei Adalberto Paulo da Silva.

Além de outros bens de inestimável valor que também tiveram destino incerto, as sete imagens desaparecidas, nesse período, foram as de São José, São Joaquim, Santa Luzia, Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora do Rosário, e Sant’Ana. Ao todo, foram 14 obras de arte subtraídas do acervo sacro vianense (veja relação abaixo).

Denúncia – O fato foi denunciado, em março de 1995, através de uma carta encaminhada ao Comitê de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Viana, pelo padre Eider Furtado da Silva, após criterioso levantamento. Excomungado arbitrariamente pelo então bispo Dom Adalberto Paulo da Silva, o sacerdote havia passado 15 longos anos sem poder entrar nas igrejas de Viana.

Em 2003, no dia 15 de agosto (Dia do Patrimônio Histórico), padre Eider Silva ainda publicou uma matéria denunciando o criminoso desaparecimento dessas peças no Jornal Pequeno, em São Luís (transcrita em nossa edição n° 4). Nenhuma das imagens ou objetos relacionados pelo sacerdote foi localizado até o presente momento, embora informações não oficiais indiquem que várias peças, entre elas o  São José, teriam sido enviadas para a cidade de Fortaleza (CE). Por falta de registro fotográfico, a identificação (e possível recuperação) das imagens se tornava muito difícil.

Esperanças renovadas – A descoberta recente desta fotografia talvez possa se constituir numa pista importante para a localização desta imagem, a qual possui características marcantes que a diferenciam da maioria das esculturas barrocas de santos, expostas em igrejas e museus de todo o Brasil.

Uma dúvida, porém, surge no caminho, pois ainda não se conseguiu definir com certeza se a imagem em epígrafe seria de São Joaquim ou São José. E padre Eider Silva, talvez a única testemunha que poderia elucidar tal dúvida, já não se encontra mais entre nós. Mesmo assim, pesquisas recentes fornecem pistas que podem levar à identificação do verdadeiro nome do santo. 

São Joaquim ou São José – A bíblia não fala em nenhum Joaquim, no entanto a tradição católica, ao longo dos milênios, introduziu a figura desse santo no calendário religioso como sendo ele o marido de Santa Ana e pai de Maria. Cultuado em vários países europeus, a veneração ao santo foi introduzida no Brasil, durante a colonização. Na arte barroca, este santo aparece normalmente acompanhado da filha, no caso a futura mãe de Cristo. Desse modo, a imagem da foto poderia ser a do nosso São Joaquim de mãos dadas com Maria, ainda menina.

Por outro lado, também poderia ser o São José de mãos dadas com o menino Jesus (já que não dá para dizer se a imagem menor é de um menino ou menina), apesar de que nas esculturas barrocas de São José, ele está quase sempre carregando o menino Jesus no colo.

O que a foto comprova – e isso não é pouco – é que, independente do nome do santo, esta imagem de Viana (que mede aproximadamente 90 cm) constitui-se, na verdade, de um conjunto de duas imagens, uma grande e uma pequena, o que só aumenta o seu valor artístico e a diferencia de muitas outras. Além disso, mais um detalhe importante que se sobressai nesta relíquia vianense desaparecida é a espada que o santo maior carrega, atravessada na cintura.

A AVL espera, assim, que a divulgação desta fotografia possa ajudar na recuperação de pelo menos uma das várias peças que compunham o outrora rico acervo sacro de Viana.

 

RELAÇÃO DAS IMAGENS E OBJETOS DESAPARECIDOS DA IGREJA MATRIZ DE VIANA 

1. Uma imagem grande de madeira de São José (barroca)

2. Uma imagem grande de madeira de Santa Luzia

3. Uma imagem grande de madeira de Nossa Senhora dos Remédios

4. Uma imagem grande de madeira de Nossa Senhora das Dores

5. Uma imagem grande  de madeira de Nossa Senhora do Rosário

6. Uma imagem grande de madeira de São Joaquim

7. Uma imagem grande de madeira de Sant’Ana

8. Um conjunto de pia, de pedra de cantaria, da sacristia da igreja

9. Um outro conjunto de pia, igual ao primeiro (que no passado pertenceu à  Igreja de São Benedito e que se encontrava   no jardim do Palácio Episcopal)

10. Três jogos de castiçais de metal dos altares da padroeira, do Coração de Jesus e de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

11. Uma cruz grande de prata, usada nas procissões

12. Um rosário de contas de ouro, com uma cruz e uma rosa  de ouro

13. Um terço de prata

14. Um crucifixo de marfim