JAZZ VIANENSE

UMA ORQUESTRA QUE MARCOU ÉPOCA NO MARANHÃO

No final dos anos 1940, uma orquestra de 14 músicos ganhou fama entre as demais da capital, roubando-lhes a cena e os contratos com os clubes sociais para os bailes e temporadas carnavalescas. Chamava-se Jazz Vianense, nome bastante adequado, já que a maioria de seus integrantes (oito ao todo) eram naturais de Viana.

A base do cast era formada pelos filhos do tabelião Ozias Mendonça que, depois de tocarem em Viana por alguns anos na banda São Benedito, de propriedade do pai, migraram para São Luís em busca de um mercado mais promissor. Liderados pelos dois irmãos mais velhos, João (Joca) e Benedito (Seu Bito), a orquestra contava com a participação dos outros três irmãos Raimundo José (Seu Nunes), Ozias (Seu Nem) e o caçula, Raimundo. Além deles havia outros três músicos vianenses: Osmar Reis, Osvaldo Costa e Raimundo Leite. O restante da orquestra era composta por um profissional de Cururupu (Gregório Sousa), um de Barra do Corda (Valter Brenha), um de Teresina (Severo Souza) e três de São Luís (José de Roque, Josemar Silva e a única mulher do grupo, a pianista Concita Moreira).

Quando Dilú Mello, no auge do sucesso e da fama, visitou Viana em 1949, chegou acompanhada do Jazz Vianense para o show que se realizaria na Praça da Prefeitura. O jornalista Gilona de Araújo, do jornal “Diário de São Luís”, que acompanhou a artista nessa viagem, registrou na edição de 25/9/1949: Não poderíamos deixar de falar nesta reportagem do Jazz Vianense, melhor conjunto orquestral da nossa capital, composto exclusivamente de vianenses. E mais adiante: O Jazz é uma plêiade de moços que tem um largo futuro pela frente, se procurar uma metrópole onde possa alargar os seus conhecimentos. Inteligentes, ativos, músicos de nascença, esses rapazes possuem a ânsia incontida de se aperfeiçoarem. São apaixonados pelos seus instrumentos. Executam-no com satisfação, uma satisfação que se exterioriza nas suas feições.

O Jazz Vianense chegou a ser contratado para tocar fora do Estado, como ocorreu quando da inauguração do River Atlético Clube, em Teresina (Piauí). O hoje desembargador aposentado Ozias Rodrigues Mendonça (87 anos), o único ex-integrante do Jazz ainda vivo, recorda do brilhantismo dessa excursão e de muitas outras festas nas quais tocou com a orquestra. Foram mais de dez anos de sucesso, embora o auge do Jazz Vianense tenha ocorrido entre 1946 a 1956.

Tocando sax alto, o futuro advogado Ozias (Seu Nem) passou a tomar parte na orquestra em 1944, aos 17 anos, ao chegar a São Luís para estudar na antiga Escola Técnica Federal (atual SEFET). Ao contrário de seus outros irmãos que ingressaram no Exército e fizeram carreira como músicos, ele preferiu dar continuidade aos estudos. Depois de formado e contratado pelo Tribunal de Contas do Estado, em 1954, ainda continuou tocando no Jazz em alguns bailes, a pedido do irmão Benedito. Em junho de 1959, depois de nomeado Promotor de Justiça de São Vicente Ferrer, entregou o instrumento ao irmão e abandonou definitivamente a música.

O Jazz Vianense, no entanto, tendo à frente Benedito Mendonça e a esposa Concita Moreira, continuaria animando os salões musicais de São Luís até o início dos anos 60. Ao longo de toda sua existência, alguns outros músicos (vianenses ou não) fizeram parte provisoriamente da orquestra como reforço, ou em substituição aos que deixavam o grupo. Entre os vianenses, também abrilhantaram o Jazz: Zé Hemetério (violino) e seu irmão Antônio Pixé (pandeiro e piston); Randolfo Soeiro (2° trombone); Emídio Gaspar (3° sax alto); Raimundo Leite (contrabaixo) e Antônio Cordeiro (3° sax alto).

Ao encerrar sua trajetória, o Jazz Vianense deixou escrita, sem dúvida, uma bonita história de sucesso, numa época em que Viana era uma fábrica de músicos, pois como dizia o mesmo repórter Gilona de Araújo, em setembro de 1949: Antes de tudo é preciso que se diga que Viana é a terra da música, assim como também foi na Europa a sua parônima, Viena.

Por Luiz Alexandre Raposo (matéria publicada no Renascer Vianense, edição n° 44)