José Mendes Pinheiro

Pela relevante atuação nas áreas socioeconômica e política da cidade, no século 20, o Sr. José Mendes Pinheiro foi a personalidade escolhida, em 2003, para ser homenageado pela AVL. A solenidade, realizada em 21/05/2004, teve como palco a sede do Gêmio Cultural e Recreativo Vianense.

A acadêmica Fátima Travassos saudou o homenageado em nome da Academia Vianense de Letras.

Leia, a seguir, a biografia deste notável homem público, publicada no Renascer Vianense, edição nº 18:

José Mendes Pinheiro foi o último empresário a residir no histórico sobrado de azulejos amarelos da Rua Cônego Hemetério e a dirigir aquela importante casa de comércio, conhecida como “Fábrica Santa Maria.” Como seus antecessores, Edgar Serzedelo Carvalho, Antonio Gaspar Marques e Armando Gaspar, o jovem filho do influente chefe político local, o português Delfim Neves Pinheiro, saberia levar à frente os negócios do comércio atacadista vianense.

O começo – Ainda muito jovem, José Mendes Pinheiro começou a trabalhar na firma A. G. Marques & Cia. varrendo salas e empacotando mercadorias. Quando o cunhado, Armando Gaspar, resolveu juntar-se ao primo e sócio, Antonio Marques Gaspar, em São Luís, teve dúvidas sobre o futuro dos negócios em Viana. Afinal, a firma comercializava produtos de multinacionais e fábricas importantes, como a Metrópole, a Texaco, e a Martins & Irmãos. Sem muita alternativa, resolveu testar a capacidade do jovem ajudante de balcão. Surpreendeu-se com o talento do rapaz que, a partir da atenta observação de tudo que acontecia à sua volta, já se familiarizara com as transações comerciais.

Apesar de subsistir principalmente da exportação de arroz, algodão, babaçu e peles de animais (bois, capivaras, veados, cobras e afins), a Fábrica Santa Maria, além das máquinas de pilar arroz e de descaroçar algodão, abrigava um comércio variado que abrangia desde tecidos a produtos como gasolina, querosene, sabão e outros mais.

Com o passar do tempo, o ex-empacotador criou sua própria firma, a “José Mendes Pinheiro”, desligando-se dos Gaspar, mas continuando a ocupar o sobrado amarelo de propriedade dos antigos patrões. Montou ali, também, uma máquina de torrefação de café que forneceu à população local, durante anos, o famoso “Café Pinheiro”. Tornou-se correspondente da Sul América Companhia Nacional de Seguros de Vida e conseguiu ainda a representatividade da Singer, fabricante das afamadas máquinas de costura.

Homem de visão – O espírito empreendedor do jovem homem de negócios não pararia, entretanto, por aí. Percebendo a morosidade e a pequena capacidade dos barcos para o transporte das sacas de arroz, algodão e principalmente de babaçu (que superava em quantidade todos os demais produtos agrícolas exportados, na sua época, e que trazia a agravante de ter suas amêndoas quebradas pelo efeito do calor e do tempo de estocagem), Zé Pinheiro, como ficaria mais conhecido, partiu para a compra de uma pequena lancha, a JP. Depois viriam outras maiores como a JL e a Santo Inácio de Loiola, esta última de dois toldos.

Zé Pinheiro foi o primeiro comerciante vianense a adquirir um caminhão. Como as lanchas, chegou a possuir três deles ao mesmo tempo.Visando facilitar o escoamento da produção agrícola dos povoados até a sede do município, mandou abrir várias estradas. Sem contar com a ajuda da Prefeitura, contratou 100 homens, os quais trabalhavam em dez turnos de revezamento, cada qual com dez trabalhadores, sob o comando do conhecido Satu Perna. E logo o dinâmico comerciante inaugurava a primeira estrada que levava ao povoado de Três Palmeiras. Dessa forma, os caminhões de sua propriedade podiam trafegar com maior rapidez e eficiência.

Assim, dono de caminhões que traziam a produção do interior do município e de lanchas que levavam essa produção até São Luís (retornando com mercadorias para abastecer o comércio), além do transporte constante de passageiros, Zé Pinheiro comprovava definitivamente sua vocação para o mundo dos negócios.

Também o transporte aéreo tornou-se uma realidade para os vianenses graças à sua iniciativa e prestígio junto ao empresário Glacimar Ribeiro Marques, dono de uma frota de aviões monomotores na capital. Mesmo quando a cidade ainda não possuía um campo de pouso apropriado, os aviões podiam usar como pista o antigo areal para aterrissagens e decolagens, durante o período do verão. As passagens eram reservadas e adquiridas com o próprio comerciante, no balcão da loja de tecidos.

A curta passagem pela Prefeitura – Com tanta competência e tantas vitórias, Zé Pinheiro não passaria ileso à disputa pela poder administrativo do município.

Depois da eficiente gestão de Luís Couto, o chefe político vianense, Benedito Gomes, viu na figura do bem-sucedido empresário (padrinho de mais de cem afilhados), um nome à altura de vencer as próximas eleições. Concorrendo com Antonio da Rocha Barros, candidato apoiado por Luís Couto, o empresário venceu o pleito eletivo daquele ano de 1955. À frente da prefeitura, todavia, não demorou muito. Depois de desentender-se com o clã de seu partido, renunciou ao mandado, gerando uma crise que entrou para a história política de Viana.

O pai de família – O casamento com Laura Mohana, resultado de uma tórrida paixão da juventude, realizou-se no dia 6 de janeiro de 1948. Para vencer a resistência do pai de sua pretendente, o comerciante sírio Miguel Abraão, que não via com bons olhos aquele namoro, foi necessária muita determinação dos dois jovens, a fim de que o amor que nutriam um pelo outro pudesse sair vitorioso.

Exemplo de mãe e esposa dedicada, Laura soube ser a companheira ideal para um homem de negócios. Religiosa, perseverante e otimista, era a principal incentivadora do marido. Além de responsabilizar-se pela contabilidade da firma, não deixava de dar sua contribuição à coletividade (dentro do contexto da época). Foi a 1ª presidente do Clube de Escoteiros e teve participação ativa no Clube das Mães, fundado pelas missionárias AFI (Auxiliares Femininas Internacionais), no início dos anos sessenta.

José e Laura tiveram seis filhos: José Mendes Pinheiro Filho, Miguel, Maria Laura, Maria Cândida, Delfim e José Antônio. Na segunda metade da década de 1960, preocupado com a continuação dos estudos dos filhos, o casal resolveu mudar-se para São Luís, encerrando, dessa forma, um período fluente do comércio vianense e fechando definitivamente as portas do secular sobrado amarelo.

Na capital, aconteceria o falecimento prematuro de D. Laura Mohana, em junho de 1969. Depois de quatro anos de viuvez, já na maturidade, o veterano comerciante contraiu novas núpcias com Maria de Lourdes Costa Alencar, tornando-se pai de mais quatro filhos: Lourdes Maria, Conceição de Maria, José Francisco e José Davi.

Nascido em 28 de fevereiro de 1924, José Mendes Pinheiro, sem sombra de dúvida, foi o maior empresário vianense do século XX.

Por Luiz Alexandre Raposo

O Sr. José Pinheiro exibe a placa de “Honra ao Mérito Vianense”, rodeado pelos filhos (Miguel, Delfim, Pinheirinho, José Antonio e Maria Laura), pelo irmão Manoel Pinheiro, e pelo cunhado e acadêmico, Kalil Mohana.

Depois da saudação, a acadêmica Fátima Travassos cumprimenta o Sr. José Pinheiro