José Soeiro

 

Aos 86 anos, o Sr. José Soeiro recebeu a placa “Honra ao Mérito Vianense”, durante reunião solene desta agremiação cultural, realizada na noite de 22 de novembro de 2008. Autor dos livros de memórias Terra Querida (2003) e Viana te amarei por toda a vida (2007), o escritor personificava muito bem o pai de família e o cidadão vianense exemplar.

Leia abaixo a saudação feita pelo acadêmico João Cordeiro ao homenageado do ano de 2008:

 

Hoje, nesta noite inesquecível para todos nós, a Academia Vianense de Letras presta merecida homenagem a José Soeiro, pessoa excepcional desde o nascimento com o gêmeo idêntico, Manoel, de difícil diferenciação física, como se fossem dois em um só ou um só duplo; nasceu num lar humilde, pobre, de Germano e Crispiana, mas harmônico, fundado no amor e no respeito mútuo; foi operário, ferreiro em Viana e eletricista em São Luís, desempenhando sempre com eficiência e responsabilidade suas profissões; constituiu também família, com Honorina, cujo casamento durou mais de 50 anos e só desfeito pela morte da esposa e fundamentado no amor, na fidelidade e compreensão conjugal; venceu na política partidária, em Viana, apesar da cor, embora tal vitória tenha tido sabor de mel e de fel; participou de animados e respeitosos bailes carnavalescos com amigos com os quais fundou a União Recreativa Vianense, mais conhecida como Jaguarema; ajudou a criar a União Operária Vianense que tantos frutos produziu de início, infelizmente ficando nas primícias; com o gêmeo Manoel, promoveu durante anos, os tradicionais festejos de Nossa Senhora de Nazaré; cantou ladainhas em bois de promessa e novenas diversas; participou efetivamente da Liturgia Católica, com vigários antigos e novos da Paróquia e com vários bispos da Diocese de Viana, e, hoje, exerce com toda dignidade o Ministério da Eucaristia e da Palavra e deixou registrados conhecimentos e experiências pessoais em depoimentos nos livros Terra Querida e Viana te amarei por toda vida.

José Soeiro construiu, assim, uma história de vida exemplar que orgulha sua família, parentes, amigos e dignifica a cidade onde nasceu, cresceu e vive ainda hoje. Foi um operário como o próprio Jesus Cristo, cujo exemplo procurou sempre imitar e fazer os outros seguir. Exerceu, aqui, a profissão de ferreiro, agora denominada de serralheiro.

Reveste-se tal ofício de magnífico simbolismo: com o auxílio do fogo, na forja, vence a dureza do ferro, domina-o, amolga-o, transformando-o em indispensáveis ferramentas e até em objetos de arte. É a vitória da inteligência e técnica humana sobre a rigidez do ferro.

Em Viana, por sinal, desde sua fundação como Aldeia de Nossa Senhora da Conceição do Maracu, na ferraria da Fazenda São Bonifácio, já se fabricavam foices, enxadas, machados etc e verificamos em pesquisa realizada nos jornais antigos de Viana, da década de 1870, que havia, na época, muitos ferreiros nesta cidade.

Como caldeireiro, cuja especialização aprendeu com o mestre Joaquim Caldeireiro, José Soeiro relembra a alegria e a vitória, ao colocar em funcionamento, injetando vida em engrenagens paradas, nos engenhos de açúcar de Santarém e Sansapé.

José Soeiro venceu na política partidária em Viana, numa época de forte segregação racial e mesmo de nível socioeconômico, elegendo-se vereador à Câmara Municipal de Viana, vitória alcançada por pouquíssimos cidadãos da cidade. Chegou a ser Presidente da Casa Legislativa, embora estas suas vitórias lhe tenham custado incontáveis desilusões e dissabores e até perigo de vida pelas ameaças que sofreu.

Mas o próprio Cristo, depois da entrada triunfal em Jerusalém, da glória e esplendor da transfiguração no Monte Tabor, passou pela agonia do Getsêmani, até o sacrifício maior no Calvário.

José Soeiro, esta é certamente uma noite de emoções, lembranças e saudades, pelas ausências de entes queridos, parentes, especialmente do irmão, Manoel, do filho, Edson, da esposa, Honorina, dos amigos, Monsenhores Arouche e Ângelo.

Para nós, cristãos e católicos, no entanto, a nossa passagem, longa ou curta, pela terra, neste “vale de lágrimas”, é como infindável procissão em que procuramos acompanhar Jesus Cristo, Nossa Senhora e todos os santos. É uma viagem na qual as nossas almas são como velas votivas, acesas desde a concepção, a iluminar os nossos passos pelos ínvios caminhos da vida e por toda a eternidade.

Mas este momento é também de encantamento e contentamento pelas presenças de parentes e descendentes, familiares e amigos que ora o reverenciam como reconhecimento por suas conquistas na família, na profissão, na religião, na política e na vida sociocultural de Viana.

Agradeçamos a Deus a dádiva desta noite inesquecível, nesta Catedral, eterna Matriz de Nossa Senhora da Conceição, onde recebemos o batismo, a primeira comunhão e a crisma; onde realizamos casamentos e festejamos aniversários e bodas. Este templo faz parte indestrutível das histórias de nossas vidas.

Parabéns, José Soeiro, pela pessoa exponencial que sempre foi em todas as estradas que trilhou, vitoriosamente e com dignidade.  Receba, portanto, esta homenagem da Academia Vianense de Letras, estes aplausos e um abraço infinito de todos de Viana, sua e nossa “Terra Querida”.

Muito obrigado! 

João Mendonça Cordeiro