MANDIOCA – Fonte de riquezas mal-aproveitada

Roça experimental, sob o acompanhamento técnico do Eng. Agrônomo Marcos Carvalho (Agerp – Viana), na qual a monocultura da mandioca obedeceu todos os critérios técnicos recomendados, tais como destocamento, espaçamento correto, adubação, idade ideal da planta para utilização como semente (estaca) etc. 

 

Quando os portugueses e espanhóis chegaram ao continente americano já encontraram a mandioca cultivada pelos nativos, cujas raízes eram aproveitadas para o preparo de alimentos e bebidas licorosas. Daí o motivo de se considerar que a mandioca é uma planta originária deste continente, de onde teria se expandido, principalmente, para os continentes asiático e africano.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no cenário mundial, o Brasil ocupa o 3º lugar em área cultivada (1.981.000 hectares), o 2º lugar em produção de raízes (25.538.000 toneladas) e o 5º lugar em produtividade (12.894 kg/ha). Em nosso país, a mandioca é cultivada de norte a sul, gerando assim um ranking nacional. O Maranhão encontra-se em 1º lugar em área cultivada (308.950 hectares), 4º lugar em produção (2.556.983 toneladas) e o último em produtividade (8.300 kg/ha). Nosso vizinho, o Pará, coloca-se em 1º lugar em produção (3.987.256 toneladas), enquanto o campeão em produtividade é São Paulo (23.012 kg/ha).

No caso específico do Maranhão, de suas 21 micro-regiões, a Baixada Maranhense ocupa o 2º lugar em área cultivada (31.451 hectares), em produção (231.796 toneladas) e produtividade (7.400 kg/ha). O 1º lugar fica com a micro-região do Pindaré, com área plantada de 77.475 hectares; produção de 748.422 toneladas e produtividade de 9.700 kg/ha.

Dos 13 municípios sob a administração da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Agerp) de Viana, o município de Penalva destaca-se em 1º lugar em área plantada (2.503 hectares) e produção (16.995 toneladas). Entretanto, o 1º lugar em produtividade é assumido por Vitória do Mearim. 

A cultura da mandiocarepresentando uma das principais fontes de alimentos energéticos para cerca de 500 milhões de pessoas, principalmente nos países em desenvolvimento (como é o nosso caso), o cultivo da mandioca, no Brasil, ainda ocupa uma pequena área (considerando-se a imensidão do território nacional), além do baixo nível tecnológico utilizado em quase sua totalidade.

Várias são as espécies de mandioca, mas somente duas (gênero Manihot) agregam maior valor econômico: a manihot utilíssima pohl e a manihot dulces pax. A diferença principal entre as duas está no fruto: enquanto a primeira apresenta o fruto alado (cheio de pequenas e finas raízes), a segunda tem o fruto liso. As variedades cultivadas no Maranhão pertencem à espécie Manihot utilíssima, que podem ser doces ou amargosas. 

Valor econômico – a mandioca é uma cultura de real importância, quer pela quantidade de matéria-prima produzida por unidade de superfície, quer pelos seus múltiplos empregos. Na alimentação humana pode ser utilizada na fabricação de farinha-seca, farinha d’água e torradas, enquanto na alimentação de animais pode ser servida fresca, seca ao sol sob a forma de raspas, feno das ramas etc. Diversos tipos de indústrias também fazem uso da mandioca, como a têxtil (na engomagem, na estamparia para expressar os corantes e agir como suporte das cores); a de papel (para aumentar a resistência a dobras, papel laminado, ondulado, caixa de papelão etc.); a de alimentos (gelatinização em cremes, recheios, aumento do teor de sólidos em sopas enlatadas, sorvetes, conservas de frutas etc.) e outras tantas. 

Realidade regional – Apesar de todo esse grande potencial, na Baixada Maranhense a mandioca é aproveitada apenas para a fabricação de farinha e, em alguns casos, de tapioca. Assim mesmo, ambas de baixa qualidade. Urge que se faça um programa de melhoria no sistema de produção utilizado, visando o aumento da produtividade e da qualidade das raízes o que, conseqüentemente, irá melhorar a qualidade de nossa farinha e abrir fronteiras de exportação para outros estados. Para tanto, poder-se-ia pensar em transformar as casas de farinha individuais em casas de farinha empresariais, utilizando-se técnicas já disponíveis em nossa região. 

Entraves à produtividade local – O sistema de cultivo utilizado em nosso município, predominantemente, é o consorciado (com milho e arroz), cujo plantio é iniciado em janeiro, no início das chuvas. Por ser do tipo de cultivo “roça no toco”, sem uso de tecnologia, apresenta baixa produtividade. O mesmo não acontece com as chamadas “rocinhas”, plantadas em junho (final das chuvas), em sistema de monocultura. Mesmo sem uso de tecnologias modernas, as rocinhas apresentam um aumento considerável de produtividade, a qual varia de 15 a 18 t/ha, pois neste modelo evita-se a concorrência nutricional desordenada entre as culturas (como acontece no sistema consorciado do arroz, milho e mandioca).

Embora seja comprovada a maior rentabilidade da monocultura, o agricultor vianense vê-se obrigado a adotar o sistema consorciado por vários fatores, entre os quais se destaca a questão da terra. Como são poucas as áreas hoje destinadas à agricultura, tentam tirar o máximo proveito do que resta com as três culturas, prejudicando conseqüentemente a produtividade da mandioca.

Outro grande entrave, além da falta de maiores esclarecimentos por parte do pequeno agricultor sobre as vantagens de um modelo de cultura sobre o outro, é que a maioria dos projetos e programas do governo, através de financiamentos, estimulam o plantio em janeiro, quando, tradicionalmente, é adotado o modelo consorciado. 

Por Maria da Graça Mendonça Cutrim  (matéria publicada no Renascer Vianense, edição n° 17)