Maria da Conceição Brenha Raposo

Em jundo de 1949, quando a enfermeira Enedina Brenha Raposo desembarcou em Viana com toda a família, para trabalhar no Posto de Saúde local, trazia também sua filha mais nova, Conceição, então com apenas um ano de idade.

Natural da vizinha São Bento, Maria da Conceição Brenha Raposo fez aqui o curso primário no tradicional Grupo Escolar Estevam Carvalho. No antigo 4º ano primário, “Sanção de Enedina” (como era conhecida naquele tempo em Viana) teve sua primeira experiência de ensino ao ser escolhida para tomar conta da turma do 1º ano, enquanto durasse o período de licença gestante da professora titular, Socorro Serejo. No final daquele ano de 1961, como era permitido por lei, prestou o exame de admissão ao ginásio, sendo aprovada e integrando assim a 1ª turma do recém-fundado Ginásio Professor Antônio Lopes, ao lado da irmã, Têca, e das colegas Josefina Cordeiro, Ribamar Ericeira, Maria de Jesus Bezerra, Olegário Mariano, entre outros.

Nessa época, chegavam a Viana as primeiras representantes da AFI (Auxiliares Femininas Internacionais), Guadalupe, Maria Stuart e Tereza. Depois chegariam Denise Caron e Gertrudes Pax. O contato com as chamadas “missionárias” e a participação ativa na JEC (Juventude Estudantil Católica) seria decisivo para o futuro da adolescente. Contratada ainda em Viana para fazer parte da equipe do recém-criado MEB (Movimento Educacional de Base), Conceição teve sua carteira de trabalho assinada aos 15 anos de idade.

Em 1964, concluía o curso e, no ano seguinte, tinha sua segunda experiência como professora, ao ministrar a disciplina de Ciências para a turma da 1ª série do mesmo estabelecimento de ensino. A fim de continuar os estudos, em 1966 mudou-se para São Luís, matriculando-se, inicialmente, no curso normal do Colégio Santa Tereza. Devido às viagens constantes a trabalho pelo interior, transferiu-se para o turno noturno do Colégio Rosa Castro. Nesse meio tempo, através do MEB, a Rádio Educadora do Maranhão surgia com a proposta arrojada de tornar-se uma “escola radiofônica”, objetivando trabalhar pela conscientização e integração das populações rurais, alijadas do processo de desenvolvimento pelas circunstâncias políticas e distâncias da época. O trabalho educativo na rádio viria alargar a visão sociopolítica da jovem estudante.

Engajada desde cedo na área da educação, participando posteriormente da equipe técnica da Secretaria de Estado da Educação, Conceição teria ainda outras experiências ricas e interessantes, ao longo de sua trajetória profissional. Uma delas foi participar do famoso “Projeto João de Barro”, naquele final da década de 60. Idealizado pelo intelectual Bandeira Tribuzi e colocado em prática pelo então Secretário de Educação, José Maria Cabral Marques, o referido projeto visava diminuir o índice de analfabetismo no Maranhão, levando o contato das primeiras letras aos habitantes dos mais distantes lugarejos da zona rural.

Assim, envolvida nesse meio, Conceição não teria dúvidas em optar pelo curso de Pedagogia, ao prestar o vestibular da antiga Fundação Universidade do Maranhão, atual UFMA. Enquanto estudante universitária, com apenas 23 anos de idade, enfrentou novo desafio como diretora da Escola Normal, naquele tempo ainda uma referência do ensino médio de qualidade, oferecido pelo Estado, na preparação das futuras professoras primárias.

Graduada, a jovem professora continuaria sua incansável busca pelo saber, ampliando seus conhecimentos científicos em sintonia com as novas ideias, apontadas pelas recentes teorias da educação. Em 1981, submeteu-se a concurso público para professora do Departamento de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão. Aprovada, passaria a lecionar as disciplinas História da Educação, Sociologia da Educação e Educação Comparada. Em 1984, a professora universitária alcançava o grau de Mestre em Educação pele IESAE (Fundação Getúlio Vargas) e sete anos depois, o de Doutora em Ciências Humanas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Paralelamente aos títulos conquistados, o nome de Conceição Raposo ganhava prestígio e respeito na área educacional, o que lhe conduziria aos cargos de Pró-Reitora de Graduação da Universidade Federal do Maranhão (1989), Secretária de Estado da Educação do Maranhão (1991), Presidente do Conselho Estadual do Maranhão e Assessora do Ministério da Educação (1992).

Merece registro especial, a ideia de Conceição, quando Secretária de Educação do Estado, de criar (em parceria inicial com a UFMA e a UEMA) o Programa de Capacitação de Docentes do Estado do Maranhão (PROCAD), o qual objetivava melhorar a qualificação dos professores das redes estadual e municipal do interior do Estado, facilitando o acesso destes profissionais aos cursos universitários. Mesmo com sua saída prematura da SEEDUC e com a desistência da UFMA, o projeto se tornou realidade. A UEMA acreditou no programa e assumiu, em parceria com a SEEDUC, a política de tornar a universidade acessível àqueles professores. Hoje, são centenas de profissionais espalhados pelo interior do Estado, inclusive em Viana, beneficiados por esta importante iniciativa, atualmente denominada de PQD (Programa de Qualificação de Docentes).

Mesmo depois de aposentada, Conceição Raposo continua na ativa. Autora do projeto “Darcy Ribeiro, foi consultora da UEMA  e trabalhou como voluntária do Curso de Mestrado em Educação da UFMA, onde leciona a disciplina Teorias das Ciências. Sempre escrevendo artigos sobre educação para revistas e publicações do gênero, Conceição é autora dos livros “Movimento da Educação de Base – discurso e prática” e “Dimensão pedagógica dos movimentos sociais no campo.

Casada com João Carlos Rodrigues, mãe de três filhos (Marcelo, Eduardo e Raquel) e avó de cinco netos, a ocupante da Cadeira nº 11 da AVL, que tem como patrono o escritor e cientista Raimundo Lopes, também faz parte da Academia Sambentuense de Letras, onde é titular da Cadeira nº 20.

Por Luiz Alexandre Raposo