O MOCOROCA É NOSSO (2)

De grande valor paisagístico, o morro do Mocoroca pertence a Viana e não a Cajari como muitos imaginam

 

A cartografia que serviu o Brasil até antes da década de oitenta do século passado era bastante precária. Por esse motivo, técnicas pouco eficientes usadas na elaboração de mapas culminariam em projeções confusas, com baixo nível de interpretação, nomes de localidades incorretas ou até desconhecidas.

Atualmente, as imagens de satélites e cartas topográficas trouxeram consideráveis avanços na definição dos mapas demográficos, que são as principais bases de delimitação dos municípios. Mesmo assim, ainda passam por um lento processo de adaptação e atualização de dados.

No Maranhão, a lentidão desses procedimentos de atualização dificultou a correta divisão territorial dos municípios, gerando demarcações equivocadas e sérios transtornos para as administrações públicas municipais.

Em consequência de toda essa problemática, Viana carrega até o momento alguns conflitos geopolíticos pelas indefinições já pontuadas anteriormente neste jornal pelo acadêmico João Cordeiro. Tratam-se dos povoados Mocambo, Carro Quebrado e Santo Inácio, e, com mais polêmica ainda, a legendária colina denominada “Morro do Mocoroca”, um dos postais do município pela sua diferenciada altimetria em relação aos campos e lagos que o rodeiam.

Os limites vigentes do município de Viana são assim descritos, conforme Cordeiro: começa na foz do Igarapé João Lopes, à margem direita do rio Pindaré; segue pelo veio deste rio à montante até a barra do rio Maracu à sua margem direita; continua pelo curso deste rio à montante até o lugar Canivete que inclui para Cajari à sua margem direita; daí por um alinhamento reto ao morro denominado Mocoroca; segue pela encosta sul e sudoeste deste morro e daí por um alinhamento reto à foz do Igarapé Cajan, à margem sul do lago de Viana.


Desvendando equívocos – De posse da variada cartografia do Atlas Vianense disposto na obra “Veias do rio Maracu”, produzida recentemente sobre o nosso município, pode-se entender com mais detalhes as inquietações evidenciadas por Cordeiro e fazer as seguintes ponderações e esclarecimentos, visando soluções futuras. Analisemos, portanto, as representações das projeções 6 e 12 do referido atlas vianense, onde  se encontram destacados alguns aspectos do território e de trechos das divisas.

Pontos de referências como o “lugar Canivete” e “igarapé do Cajan” tornam as descrições das linhas divisórias confusas e indefinidas. Registros de história oral do ambientalista Sabino Costa Neto desvendam alguns destes mistérios. No exemplo do lugar Canivete, Costa Neto revela que o lugar, hoje desabitado, foi ocupado pelas construções de um armazém e uma residência. Talvez por esse motivo, escolhido como ponto (tais construções ainda se encontrarem mapeadas em cartas topográficas que originaram os mapas censitários), mas que hoje traz indefinição pela falta de maiores detalhes sobre o local. Enquanto que o igarapé do Cajan foi grafado errado, pois na verdade existe ali o igarapé do Cajá.

Outros erros grosseiros também podem ser observados nos limites que definem o território vianense como: “Cajari à margem direita” [do rio Maracu], “segue pela encosta sul e sudoeste deste morro” nos induzem a imaginar a causa maior do erro, a hipótese de que alguns trechos de divisas foram traçados com o mapa inverso no plano norte/sul (no popular: o mapa de cabeça para baixo), já que, na realidade, Cajari se situa à margem direita do Maracu e a encosta norte e noroeste da colina do Mocoroca que foram, de fato, inclusas como linhas divisórias em vez de sul e sudeste. Em síntese: tais pontos levantados foram cruciais para a delimitação errada da maior parte da ilha do Mocoroca para o município de Cajari.

 

Corrigindo erros – A fim de corrigir tantos equívocos, sugerimos a seguinte proposta de delimitação desse trecho dos limites do município de Viana com as devidas correções.

Objetivando a clareza e coerência dos pontos de referência e linhas divisórias, utilizamos os acidentes geográficos “lago Maracu” (já que o termo “barra” não especifica nenhum ponto) e “colina”, pois a pequena elevação do Mocoroca não o enquadra na categoria de morro. Os trechos sublinhados correspondem, portanto, às correções: “segue pelo veio deste rio à montante até sua confluência com o rio Maracu à sua margem direita; continua pelo curso deste rio até o encontro com o lago Maracu, no lugar Canivete que inclui para Cajari à sua margem esquerda; daí por um alinhamento reto ao sul da colina denominada Mocoroca; segue pela encosta no sentido sudoeste desta colina e daí por um alinhamento reto à foz do Igarapé do Cajá, à margem sul do lago de Viana”.

 

 

Território de Viana em suas atuais linhas divisórias. No detalhe do círculo vermelho, alocalização da ilha do Mocoroca (no caso, ficando fora dos limites vianenses)

 

 Configuração de como devem ser as verdadeiras linhas limítrofes do município de Viana (pontilhamento lilás), incluindo para si toda a ilha do Mocoroca.

Correção 1: Lugar Canivete referenciado pelo encontro do rio Maracu e o lago Maracu

Correção 2: Linha contornando o sudeste e sul da colina do Mocoroca

Correção 3: Alinhamento reto do sul da colina até o igarapé do Cajá.

 

De qualquer forma, enquanto tal proposta não é oficializada pelas instituições competentes e mesmo levando em conta a delimitação atual, não resta nenhuma dúvida de que a ilha com a colina do Mocoroca (ou morro, como é mais conhecido) pertence realmente ao município de Viana.

 

Por José Raimundo Campelo Franco (matéria publicada no Renascer Vianense, edição n°48)