Raimundo de Castro Maya

Raymundo de Castro Maya nasceu em Viana no ano de 1856 e faleceu no Rio de Janeiro em 18 de agosto de 1935, aos 79 anos. Graduou-se em Engenharia Civil pela Escola Central, hoje Politécnica, onde anos depois prestaria concurso. O interessante é que ninguém menos que o Imperador D. Pedro II esteve presente à seleção do professor vianense. Segundo manuscritos do acervo pessoal dos Castro Maya consta que “Sua Majestade ficou tão impressionado com o jovem que não teve dúvidas em convidá-lo para preceptor de seus netos”, informação confirmada nos livros publicados pelos Museus. Foi dessa forma que Raymundo adentrou na vida da Corte e pôde, tempo depois, conhecer sua futura esposa, Theodosia Benedito Ottoni, de tradicional família mineira, filha de Christiano Benedito Ottoni e sobrinha de Teófilo Ottoni, político conceituado que daria, no futuro, nome a uma famosa cidade de Minas Gerais.

O pai de Theodosia era homem de grande projeção. Foi ministro, construtor e presidente da Ferrovia Pedro II (atualmente Central do Brasil). Raymundo de Castro Maya trabalhou com o sogro na Estrada de Ferro, ganhando status de renomado técnico. Outros dados dão conta da grande fortuna deste vianense, o que é confirmado pelo seu inventario de bens.

Do consórcio com Theodosia nasceram três meninos, Christiano Ottoni de Castro Maya (1890 – 1923); Paulo Ottoni de Castro Maya (1893 – 1928) e o já citado, Raymundo Ottoni de”Castro Maya (1894 – 1968). Quando do nascimento do seu último filho, o Dr. Castro Maya era Vice Cônsul do Brasil na França e essa estada na “Cidade das Luzes” mudaria para sempre o destino da família.

O casal Raymundo e Theodosia, ambos com grande sensibilidade para as artes, na efervescência cultural francesa, adquiriram o hábito de comprar obras raras e iniciaram uma coleção valiosíssima. Segundo o historiador e crítico de arte, Paulo Herkenhoff, Raymundo de Castro Maya, “representou o que de melhor havia no interesse pela arte francesa desenvolvida por alguns brasileiros na segunda metade do século XIX”. E vai mais longe ao afirmar que “a coleção do ex-Vice Cônsul do Brasil em Paris, o maranhense Raymundo de Castro Maya, foi uma das quatro ou cinco grandes coleções de arte francesa no Rio de Janeiro que foram legadas a instituições”.

Raymundo de Castro Maya era, portanto, um vulto de refinada cultura, afinado ao período da belle époque carioca, que saberia transmitir aos seus descendentes o amor pela boa arte. Raymundo, o filho, tornou-se igualmente um dos homens mais cultos de sua época e também colecionador de obras raras, muitas delas herdadas da antiga coleção iniciada pelo pai. Herkennoff chega a afirmar que: “Sem confundirmos os marcos ‘temporais das próprias peças colecionadas, pode-se concluir que, através desse testemunho de vida evidenciado no colecionismo, esses dois homens – pai e filho – foram capazes de vivenciar pessoalmente um olhar compreensivo e atuante sobre dois séculos da cultura do Brasil. É como se tivessem vivido dois séculos” . E não se trata de hipérbole deste historiador. Compõem, hoje, o acervo dos museus Castro Maya, no Rio de janeiro, peças de arte chinesa e indiana, obras nacionais como quadros de Di Cavalcanti, Cândido Portinari e muitos outros, além de clássicos como Picasso, Monet e Matisse, que enchem os olhos de qualquer um. Há ainda coleções fabulosas de aquarelas de viajantes estrangeiros, como Rugendas, e o completo acervo de Debret.

De todo esse conjunto artístico, chama particular atenção a coleção de azulejaria portuguesa dos séculos XVII e XVIII, muitos deles provenientes do Maranhão. Como disse o mesmo Herkenhoff: “Era como se fosse trazida dessas casas sua pele mais sensível. Trazer azulejos do Maranhão era também trazer um pedaço da casa do pai”. Essa ligação com a terra distante denunciava a preocupação em não deixar morrer, na família, a memória maranhense. Os filhos, Paulo e Raymundo, residiram em São Luís, quando dirigiram a Companhia Geral de Melhoramentos no Maranhão, nos idos de 1917.

Assim, pode-se concluir que o Dr. Raimundo Castro Maya foi um homem de cultura invejável no seu tempo, capaz de despertar respeito, inclusive, do Imperador D. Pedro II. Engenheiro Civil, técnico de estrada de ferro, Vice-Cônsul, bibliófilo, colecionador de obras de arte, este vianense merece, sem dúvida, um lugar de destaque não só na Academia Vianense de Letras, mas principalmente na memória coletiva de seus conterrâneos.

Por Polliyanna Gouveia  Mendonça