SÃO BONIFÁCIO DO MARACU

De madeira policromada, medindo 66 cm de altura, a imagem de São Bonifácio (que traz no peito um relicário com um pequeno fragmento de osso do santo mártir) será apresentada à mídia e ao público maranhense, em São Luís, no próximo dia 5 de junho, às 18:30 hs.,na sede do Seminário São Bonifácio da Diocese de Viana.

 

Em meados do século XVII, o Papa Urbano VIII presenteou os padres da Companhia de Jesus com duas imagens que representavam dois grandes mártires da Igreja Católica: Santo Alexandre e São Bonifácio. Era uma bênção, aos jesuítas, pela importantíssima obra de propagação do cristianismo entre os povos do Novo Mundo. Depois de desembarcarem no porto de São Luís, no dia 2 de dezembro de 1652, trazidas de Roma pelas mãos do padre Manoel de Lima, a imagem de Santo Alexandre foi enviada para a Missão Jesuítica no vizinho Estado do Pará; e a de São Bonifácio permaneceu por três décadas na antiga Igreja de Nossa Senhora da Luz, no mesmo local onde hoje se situa a Igreja da Sé.

Segundo a memória oral vianense a imagem de São Bonifácio foi trazida para a Baixada pelos próprios padres da Companhia de Jesus, em 1683, quando da fundação da Missão de Nossa Senhora da Conceição do Maracu, marco inicial da futura cidade de Viana.  Durante cinquenta anos, enquanto os jesuítas estiveram à frente da Missão, a referida imagem ficou exposta no altar da capela da Engenho de São Bonifácio de propriedade daqueles religiosos, situada à margem do rio, depois denominado Igarapé do Engenho. Em 1757, com a elevação da Aldeia de Maracu à Vila de Viana e consequente retirada da jurisdição temporal e secular dos missionários jesuítas (fato que motivou o retorno dos padres à capital), a imagem de São Bonifácio foi levada para a capela de São Brás da fazenda de Araçatuba. No final do século XIX, a imagem do santo já se encontrava na vila de Penalva (na época pertencente ao município de Viana), permanecendo ali até o dia 23 de março de 2007.

No texto escrito pelo cientista vianense, Raimundo Lopes, intitulado Cemitério dos Tamarindeiros – Uma Relíquia dos Jesuítas, publicado pela “Revista da Semana” do Rio de Janeiro, em 24/01/1925, constam algumas informações interessantes sobre o assunto:

No começo do século passado, ainda existia, à margem do “Igarapé do Engenho”, a ermida pequena, mas relativamente rica, de “São Bonifácio do Maracu”.

Pouco a pouco, porém, os próprios moradores arrancaram as pedras aos veneráveis edifícios, para suas casas e engenhocas; a própria capela abandonada serviu de repasto à lithophagia interesseira, inevitável num país onde governos e homens de estudo não embargam a ação depredatória dos aproveitadores de ruínas…

…Mas onde era esse engenho de São Bonifácio? Onde edificaram os padres Jesuítas a capela do orago guerreiro, trazido de Roma, com Santo Alexandre do Pará, com relíquia dada pelo Papa, e cuja imagem era provavelmente a mesma que ainda se venera, por complicada mudança, na próxima vila de Penalva? Era nesse capoeirão mesmo, no chamado cemitério dos tamarindeiros…

O guardião da imagem 

Nas últimas quatro décadas, a imagem de São Bonifácio esteve sob a guarda e proteção do antigo pároco de Penalva, o igualmente vianense padre Wilson Nunes Cordeiro.

Quando soube dos primeiros desaparecimentos misteriosos de imagens das igrejas pertencentes à Diocese de Viana, no final dos anos 70, o padre encarregou-se pessoalmente de proteger a preciosa obra de arte, levando-a, desde então, para sua residência, onde era guardada num caixote próximo de sua cama. Graças, portanto, à iniciativa do veterano sacerdote, esta peça de grande valor histórico e cultural chegou são e salva aos nossos dias. 

Contrato de comodato 

Reconhecendo a necessidade de pequenos restauros a serem efetuados na imagem por técnicos especializados e, principalmente, da completa falta de segurança do local onde a relíquia se encontrava, o Comitê de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Paisagístico e do Meio Ambiente de Viana decidiu solicitar seu tombamento, como objeto de interesse nacional, junto ao IPHAN.

Paralelo a esta solicitação, o mesmo Comitê, através de um contrato de comodato a ser celebrado entre a Diocese de Viana e a Secretaria de Estado da Cultura, também pleiteiou um pedido de guarda da imagem de São Bonifácio, para exposição pública no Museu Histórico e Artístico (Rua do Sol, 302 – centro – São Luís) enquanto a Igreja Matriz local não oferecer condições reais de segurança para tal finalidade.

Desta maneira, como parte das comemorações de seu 250º aniversário, Viana estará propiciando a todos os maranhenses (e brasileiros em geral que visitarem São Luís), a oportunidade de conhecer e admirar um autêntico e raro exemplar da arte sacra do século XVII. 

Quem foi São Bonifácio 

Cognominado o “Apóstolo da Alemanha”, São Bonifácio nasceu em Wessex, na Inglaterra, por volta do ano 673. Seu nome de batismo era Winfrid. Fez-se monge no mosteiro de Exeter e aos 20 anos já era mestre de ensino religioso e profano. Em 719, o Papa Gregório II lhe confiou uma missão entre as populações germânicas e ele partiu para a Alemanha, a fim de pregar o evangelho. Com doçura, coragem e firmeza, o jovem apóstolo alcançou pleno êxito, sendo então nomeado bispo de Mainz, com o nome cristão de “Bonifácio”. Depois de restaurar e organizar a igreja na Alemanha, fundou a célebre abadia de Fulda, centro de espiritualidade e cultura religiosa alemã.

Sua atividade missionária foi intensa. Evangelizou várias comunidades pagãs da Europa Central. Entre os anos de 724 a 731 dedicou-se à evangelização da Saxônia. Auxiliado por outros missionários ingleses e irlandeses, deixava-os em seu lugar para prosseguir adiante na pregação do cristianismo. Durante sua última missão, na Frísia, quando se preparava para crismar grande número de novos convertidos, no dia 5 de junho de 753, foi assassinado por um grupo de frisões, armados de espadas. Seu corpo encontra-se sepultado no mosteiro de Fulda.

Por Luiz Alexandre Raposo (matéria publicada no Renascer Vianense, edição n° 16)