TAMBOR DE MINA

Uma das mais antigas manifestações folclóricas do Maranhão ainda resiste em Viana

No próximo dia 2 de dezembro, mais uma vez o tambor de Mina irá rufar para celebrar o dia de Santa Bárbara em Viana. A festa dura dois dias, encerrando-se com uma procissão que percorre as principais ruas da cidade, no dia 4, acompanhada de orquestra, tambores, caixas e com todos os componentes do culto trajados a caráter.

O centro promotor local do culto afro-brasileiro é a Tenda de Santo Antonio, sediada à Av. Jorge Abraão Dualibe, n° 297 (Barra do Sol) e dirigida pelo conhecido Zé Antonio Carvalho, um lavrador matinhense de nascimento que reside há muitos anos em Viana.

Dentro do sincretismo religioso, além de Santa Bárbara, a Tenda também promove tambores e caixas para outros santos, como São Benedito, Santo Expedito e o próprio Divino Espírito Santo. Em julho, nos dias 20 e 21, acontece a festa de Santo Expedito, com tambor de mina e caixa para o Divino Espírito Santo. Mas os tambores de Mina podem ser realizados a qualquer momento, desde que seja necessário (quando as entidades estiverem tratando algum paciente, por exemplo).

Atualmente composta por 44 participantes, a Tenda mantêm-se com doações de seus adeptos e filhos de Santo. São 9 homens e 35 mulheres, na maioria domésticas e lavradores (alguns aposentados), mas há também professores. Para a realização das festas não recebem nenhuma ajuda financeira vinda de fora. E como os gastos com as indumentárias próprias de cada festejo também são custeadas por eles, cada um se traja de acordo com suas possibilidades.

Há uma hierarquia entre as entidades cultuadas na Tenda.  O chefe ou guia de “Croa”, encarnado por Zé Antonio Carvalho, chama-se Rei João. Existe ainda a contraguia chamada Ana Flor. Os “filhos ou filhas de Santo” também possuem seus respectivos guias, entre os quais se destacam Rei Sebastião, Rei do Mar, Cabocla Mariana, Cabocla Jurema, João da Luz, Luizinho e outros mais.

Os principais tambores e instrumentos utilizados nos cultos são o tambor de Guia, o tambor de Luz e o tambor da Mata. Um triângulo de ferro e uma cabaça recoberta de contas completam o acompanhamento rítmico para os cânticos das entidades presentes em cada culto.

Origem do tambor de mina – “Mina” identifica várias etnias de escravos trazidos para o Brasil, embarcados na costa africana, a leste do Castelo de São Jorge da Mina (atual República do Gana) e que eram oriundos da vizinha região hoje pertencentes às Repúblicas do Togo, Benin e Nigéria.

No século 19, com a importação de grande número de escravos para o município, durante o período áureo da lavoura do algodão, diversas religiões de origem africana fincaram fortemente suas raízes na cultura vianense. Em outras cidades como Alcântara, Codó e São Luís, ocorreria o mesmo fenômeno. Com o passar do tempo, a partir do Maranhão, o tambor de mina alcançaria os vizinhos Estados do Amazonas, Pará e Piauí.

No tambor de mina são cultuados voduns e orixás (entidades africanas), gentis (com nomes de nobres portugueses) e caboclos (entidades surgidas nos terreiros brasileiros).

O rito consiste em uma sequência de cânticos e danças, ofertadas às entidades espirituais homenageadas em cada festa. Durante a dança, ocorre o transe, momento em que a entidade passa a se manifestar. De forma discreta, o transe do tambor de mina torna-se perceptível, às vezes, apenas pela indumentária ou quando a entidade dá várias voltas ao redor de si mesmo, em sentido contrário ao ponteiro dos relógios.

No tambor de mina, 90% dos participantes são do sexo feminino. Os homens normalmente desempenham a função de tocadores dos tambores, participando da roda de dançantes apenas quando são donos do terreiro ou portadores de conceituadas entidades espirituais.

  Por Luiz Alexandre Raposo (matéria publicada no Renascer Vianense, edição nº 41)