Solar dos Ramos

Lourival Serejo


Muitas famílias vianenses desapareceram sem deixar registros. Morreram as pessoas, as casas caíram, nenhum parente restou para perpetuar o nome da família. Algumas, entre ricas e humildes, tiveram relevante atuação na sociedade; depois se acabaram, por morte dos seus membros, ou mudaram de domicílio, como foi o caso da família de Américo Fernandes (quem se lembra?). Mesmo ausentes, ficaram na memória de seus contemporâneos.

Daí a importância de lembrar a passagem delas pela cidade de Viana. Daí o valor que vejo em falar desses grupos familiares que estiveram presentes e que, de certa forma, influenciaram nossas circunstâncias, na moldura do nosso espírito, do nosso sentimento de pertencer a uma comunidade com costumes e tradições peculiares.

Com essa breve introdução, pretendo explicar a série de crônicas que inicio, neste jornal, sobre as famílias vianenses, sem preocupação em fazer história, até porque não sou historiador.

Começarei falando da família Ramos.

Ainda me lembro do senhor Moisés Ramos andando devagar, pelas ruas de Viana ou assistindo às missas na igreja de São Benedito, com uma fita vermelha da Irmandade do Santíssimo Sacramento no pescoço. Estava sempre bem vestido, bem arrumado, com um porte solene de um chefe de família, no sentido mais tradicional do termo.

Por várias vezes frequentei sua casa, acompanhando minha irmã Lurdinha, em suas visitas à dona Maroca, de quem era muito amiga.

Sobre o senhor Moisés Vieira Ramos, tomei conhecimento de que era alfaiate, depois tornou-se comerciante e morou em Viana até a data do seu falecimento, ocorrido em 6 de maio de 1969.

A família Ramos era extensa, como quase todas as famílias vianenses daquela época. Moisés Ramos era casado com a senhora Maria da Conceição Fernandes Ramos, conhecida como dona Maroca. Dessa união nasceram dez filhos, nesta ordem de antiguidade: Djanira, Djalma, Doracy, Denê, José de Ribamar, Daniel, Denise, Dorival, Maria da Natividade e Antônio Amâncio.  Sete dos dez irmãos já faleceram, restando apenas  Doracy,  Denise e  Maria da Natividade, todas  residentes em São Luís, há muitos anos.

A casa dos Ramos continua a mesma, bem conservada, de frente para a Igreja de São Benedito, como a prestar reverência permanente ao templo zelado pela família por muitos e muitos anos.

Moisés Ramos tinha, como católico atuante, acentuada ligação com a Igreja, tanto que pertencia à Irmandade do Santíssimo Sacramento.

Essa confraria religiosa, segundo relata Luiz Alexandre, em seu livro Memórias de América Dias, era “composta somente por varões e sediada na Igreja da Matriz. Essa irmandade era quem comandava os atos da Semana Santa, em especial as celebrações da Quinta-feira Santa, quando o Santíssimo ficava exposto em um altar lateral para adoração pública.”

Uma curiosidade relativa ao senhor Moisés Ramos era sua condição de irmão unilateral da nossa teatróloga Anica Ramos, figura lendária da vida cultural de Viana.

A religiosidade era a marca dos Ramos, devotos de São Benedito, em cuja festa o senhor Moisés participava ativamente, não só como católico, mas como ativo cooperador das atividades referentes à administração dos festejos.

Pertencia à família Ramos o popular Nonato, morto precocemente. Era filho de dona Djanira e do senhor Diógenes, sendo conhecido como Nonato de Diógenes. Como se alardeava um torcedor fanático do Corinthians, também era chamado de Flávio, em referência a um então famoso jogador daquele time.  Ao som do seu clarinete e pela animação de suas histórias, espalhava alegria por onde passava, despertando muita simpatia entre seus amigos.

Como se vê, é importante para as gerações presente e futura o conhecimento da existência dessas famílias, a exemplo da família Ramos, que tanto representou para a sociedade vianense no tempo dos nossos pais, educando seus filhos pelo catecismo dos valores maiores das boas práticas familiares e religiosas.