Egídio Rocha

Egídio do Patrocínio Rocha creditava à disciplina o princípio básico para a formação do caráter do homem. Por esse motivo, ganharia má fama entre aqueles que primavam pela rebeldia. Quem o conheceu de perto, como eu, sabe que ele era uma pessoa educada no tratar com seus semelhantes. Afável, solidário e bondoso ensinava com o mesmo empenho tanto aos que pagavam regularmente as módicas mensalidades que cobrava, quanto àqueles que não dispunham de condições financeiras para tal.

Filho de Francisco da Silva Rocha e de Carolina Rosa Gouveia, Egídio (nascido em 01/09/1877) era o mais moço de uma prole de cinco irmãos. Teve uma infância difícil. Seus pais eram muito pobres e, para estudar, vendia feixes de lenha que carregava sobre a cabeça para trocar por lápis e cadernos. Não frequentou a escola formal e sua aprendizagem não foi além do nível primário.

Aos 12 anos, em 1889, acompanhou os irmãos mais velhos Francisco Izidoro e João Raimundo que, atraídos pelo incremento da extração da borracha no Amazonas, partiram para aquela região em busca de prosperidade. Fixou-se na cidade de Breves (Pará), iniciando ali, mais tarde, sua trajetória no magistério. Naquela cidade, o jovem professor casou-se com Maria Rosália Rocha. Infortunadamente, a esposa faleceu pouco tempo depois. Quando retornava ao Maranhão, em 1901, na companhia dos irmãos, um deles, Francisco Izidoro, adoeceu e morreu na embarcação que os trazia de volta.

Em Viana, reiniciou seu nobre mister, profissão que abraçou até o final da vida. Dedicou-se ao ensino da gramática e da aritimética, ganhando respeito da comunidade local em pouco tempo. Na política, por obra do grande amigo, Coronel Mundico Campelo, chefe político do partido Roxo ou Conservador, aceitou o cargo de Delegado de Polícia, exercido no ano de 1930. Mais tarde, outro amigo e admirador, o advogado Trajano Rodrigues, o lançou candidato ao legislativo municipal. Foi eleito com maciça votação para a Câmara de Vereadores sem que fosse preciso fazer campanha para isso. Exerceu a legislatura de 1946 a 1951, no último governo do ex-discípulo, Eziquiel de Oliveira Gomes, do partido adversário, o Rosa ou Aliança Liberal.

Egídio Rocha casou-se, em segundas núpcias, com Esteva Martinha da Costa, falecida em 1942. No ano seguinte, casava-se, em terceiras núpcias, com Izabel Arcanja de Carvalho. Com a segunda mulher teve onze filhos: Izidoro Deocleciano Rocha, Luiza Maria Rocha, Francisco Izidoro Rocha, Carolina Sabina Rocha, Jerônimo Lauro Rocha, José Rodrigues Rocha, João Eurico Rocha, Floripes da Conceição Rocha, Iracema Maria Rocha e os gêmeos Raimundo Rodrigo Rocha e Manoel Rodrigo Rocha.

Com a terceira esposa, Izabel, teve dois filhos: Benedita de Carvalho Rocha e Floriano de Carvalho Rocha. Um outro filho, nascido fora dos matrimônios, conhecido como “João do Galo” ainda vive e reside em Viana.

Egídio Rocha faleceu no dia 5 de julho de 1958, aos 81 anos de idade, em sua residência à Rua Dr.Castro Maia, nº 730. Para eternizar sua memória no seio da coletividade vianense, a Câmara Municipal optou em mudar a denominação da rua da Barreirinha (onde o velho mestre havia nascido) de Rua Dr. Ático Seabra para Rua Professor Egídio Rocha.

Difícil julgar fatos e personagens do passado, quando se perdeu o contexto de toda uma época. Transcorrido mais de meio século, não deve ser fácil para as atuais gerações entenderem uma metodologia que implicava em castigos físicos. A palmatória tornar-se-ia, assim, levianamente, símbolo da “era do suplício”. Entretanto, gerações e gerações aprenderam a ler, escrever e contar, a colecionar vitórias na vida, a adquirir autodisciplina, responsabilidade e amor à família exatamente por que se submeteram ao rigor da escolinha do “mestre da palmatória.” Suas antigas “vítimas” transformaram-se em cidadãos decentes e cumpridores de seus deveres. Eu mesmo, que também fui seu aluno, hoje me orgulho de ter como patrono esse homem, cujo lema de vida ele costumava declamar na sala repleta de meninos: o homem precisa saber ler, escrever e contar bem. No entanto, se não tiver caráter, o resto de nada lhe adiantará.

Por José Antonio Rosa Castro