Enedina Brenha Raposo

Enedina do Espírito Santo Luso Brenha, a terceira filha de uma família de quatro irmãs, nasceu em São Bento no dia 14 de maio de 1910. Era filha do alfaiate Luiz Domingues Brenha e da tecelã de redes Isabel Luso Brenha.

Muito cedo seu seus pais a encaminharam para estudar em São Luís, sob os cuidados dos avós maternos. Depois de concluído o curso primário no Grupo Escolar Antonio Lobo, em 1923, enquanto suas irmãs se decidiam pelo curso normal, Enedina prestava o exame de admissão ao curso ginasial, no antigo Liceu Maranhense, a mais tradicional instituição de ensino do Estado.

Embora criada numa época extremamente machista, quando à mulher que pretendesse estudar não lhe restava outra opção senão seguir a carreira de professora normalista, desde menina Enedina acalentava o ideal de se tornar médica.

Naqueles idos, para quem desejava cursar uma faculdade era requisito obrigatório fazer o curso ginasial (na época com duração de seis anos). Aluna de professores conceituados como Clarindo Santiago, Nascimento Moraes e do vianense Antônio Lopes, a jovem liceísta tinha esperança de, ao término do curso, poder ingressar na Faculdade de Medicina, cuja fundação já era cogitada em São Luís.

Ao concluir o ginásio em 1929, todavia, a prometida Faculdade de Medicina do Maranhão ainda não saíra do projeto. Por intermédio do padre Chaves, famoso sacerdote da época, Enedina ganhou uma bolsa de estudos para cursar Medicina na vizinha capital do Pará. A Revolução de 30, acontecida no ano seguinte, veio frustrar o sonho da jovem estudante. Um dos primeiros atos do novo presidente do país, Getúlio Vargas, invalidava todos os atos governamentais instituídos recentemente, incluindo concessões federais de bolsas de estudos.

Se o diploma de médica, por uma série de fatores adversos, tornou-se um sonho impossível, o ideal de dedicar-se à Medicina continuava falando mais alto. Depois de submeter-se a um curso prático de enfermagem, foi contratada para o Posto de Saúde de São Bento.

Em 1949, já casada com José Cursino da Silva Raposo e mãe de seis filhos, D. Enedina veio transferida com toda a família para Viana, após o fechamento do posto sambentuense. Em pouco tempo, a nova funcionária do hospital estadual conquistou a simpatia do povo da terra, através do apoio recebido das colegas de profissão Santinha Neves e Maria Serejo. Juntas, formaram um trio dedicado ao trabalho em prol da saúde dos vianenses, principalmente ajudando os filhos destes a virem ao mundo. Em 22 anos de assistência à maternidade (1949/1971), não houve um só povoado, deste e dos municípios circunvizinhos, que Enedina Raposo não tivesse visitado para socorrer uma mãe em dificuldades de parto.

Numa época em que a Baixada não possuía estradas e que Viana vivia praticamente isolada da capital, na ausência do médico, a comunidade precisava encontrar soluções práticas para seus problemas de saúde. Desse modo, cruzando os campos a cavalo, em lombo de burro, carro de boi ou carroceria de caminhão, ou ainda atravessando o lago de canoa, D. Enedina chegava aonde necessitassem de seus préstimos. Era comum o pedido de socorro vir acompanhado de equipes de até 12 remadores, que se revezavam no caminho, a fim de que a pequena embarcação pudesse chegar com o auxílio da parteira o mais rápido possível. Embora sem um levantamento preciso, ela mesma estimava ter assistido, aproximadamente, mil nascimentos em quase duas décadas e meia de assistência às parturientes da região. Também perdeu a conta do número de afilhados que angariou nesse período.

Entre 1965 a 1971, D. Enedina trabalhou com Bonifácio Serra, num ambulatório particular montado na própria residência deste, na Barreirinha. Ali eram prestados serviços médicos dos mais diversos, os quais abrangiam desde o atendimento mais simples às cirurgias de baleados e esfaqueados, incluindo amputações de braços e pernas gangrenados. Os pacientes, em sua maioria oriundos da zona rural, ficavam internados (por semanas ou meses até) na clínica improvisada, onde podiam receber o necessário acompanhamento pós-operatório.

D. Enedina participou da fundação da 1ª maternidade de Viana, em 1968, sob a iniciativa da Sra. Carminha Sousa, através da Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Viana. Contando com seu apoio e de Santinha Neves, a nova instituição prestaria relevantes serviços às mães vianenses por vários anos, até ser transformada na atual Policlínica.

Dona de vasta cultura, conseguida através do hábito de leitura que cultivava desde a juventude, a enfermeira também desempenhou papel importante nas áreas social e cultural da cidade. Foi a primeira mulher a dar apoio direto ao então prefeito de Viana, José Pereira Gomes, quando da fundação do Ginásio Professor Antônio Lopes. É de sua autoria várias atas de reuniões, registrando os primeiros passos dessa instituição de ensino, como secretária do comitê de fundação. D. Enedina ainda faria parte do corpo docente do referido ginásio entre os anos de 1963 a 1964.

Católica praticante e devota de São Judas Tadeu, D. Enedina foi uma grande incentivadora da devoção ao santo das causas perdidas, em Viana. Inclusive chegou a compor os versos para o hino de louvor a São Judas Tadeu e liderou a iniciativa para aconstrução da capela dedicada ao santo, no bairro do Moquiço.

No ocaso da vida, a enfermeira aposentada compôs os versos a seguir transcritos: Já sinto o peso dos anos/E vislumbro o fim da estrada/Por isso, Senhor, te agradeço/Minha vida abençoada!

Vítima de um aneurisma cerebral, Enedina do Espírito Santo Brenha Raposo faleceu em São Luís, no dia 10 de agosto de 1993, aos 83 anos.

Em 2004, por iniciativa dos acadêmicos José Pereira Gomes e Rogéryo du Maranhão, a enfermeira Enedina Raposo foi eleita patrona da Cadeira nº 24 da Academia Vianense de Letras.

Por Luiz Alexandre Raposo