Estêvão Rafael de Carvalho nasceu em Viana, em 20 de janeiro de 1808(*), de família tradicional, sendo seus pais João de Carvalho Santos e Margarida Francisca de Araújo Carvalho. Ainda moço seguiu para Coimbra (Portugal), onde foi continuar seus estudos de nível superior, em Matemática e Filosofia. Era casado com dona Olívia de Jesus Soeiro de Carvalho com quem teve um filho, batizado também de Estêvão Carvalho.
Neste ponto, torna-se necessário deixar bem claro aos vianenses que o Estêvão Carvalho de quem se ouve contar alguns casos familiares desabonadores de sua conduta como marido e pai, não era o velho e respeitável jornalista, mas o seu filho, que trazia o mesmo nome do pai.
Estêvão Carvalho era professor, orador, parlamentar e jornalista. Foi eleito deputado à Assembléia Geral para a legislatura de 1834-1837, durante a qual teve atuação marcante, pela sua inteligência e suas intervenções irônicas e cheias de mordacidade, com propostas polêmicas que despertaram grandes discussões na Corte. Foi, também, membro destacado da Assembléia Provincial. Deixou várias contribuições literárias e jornalísticas de considerável valor. Publicou em 1837 A Metafísica da Contabilidade Comercial e traduziu do alemão o poema A primavera, de Kleist.
Estêvão Carvalho era um homem destemido, dotado de uma inteligência penetrante, que se destacou em todas as suas atividades, seja como jornalista, professor ou parlamentar. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Inspetor do Tesouro Público Provincial. Atuou, também, como juiz ordinário, em sua cidade natal.
Seu nome ficou definitivamente ligado ao jornal que fundou, em 1838, O Bemtevi (grafia original), que se caracterizava por sua linguagem veemente e combativa.
Para o professor e pesquisador, Sebastião Jorge, “O Bem-te-vi foi um dos jornais mais polêmicos de sua época. Era um jornal bem escrito, o que identificava a formação cultural do seu editor. Nos seus mais de três meses de atividades, deixou um rastro de inquietação, controvérsias, sendo alvo de insultos, acusações e defesas” (Jorge, Sebastião. A linguagem dos pasquins. São Luís, 1987, p.98).
Para Astolfo Serra, não há dúvida quanto à relação do Bem-te-vi com a eclosão da Balaiada:
“Estevam Rafael de Carvalho foi, sim, o principal responsável intelectual da Balaiada. O seu jornal O Bentevi deu nome aos rebeldes já que o dera à facção política a que se diziam pertencer os balaios” (Serra, Astolfo. A balaiada. Rio de Janeiro: Bedeschi, 1946, p.248).
Nascimento Morais Filho, um estudioso respeitável da vida de Estêvão Carvalho, não hesita em classificá-lo como gênio.
Vale a pena transcrever esta impressão de Antônio Lopes (História da imprensa no Maranhão, p.85) sobre seu ilustre conterrâneo:
“No decurso de uma existência que não passou dos trinta e oito anos Estêvão Rafael havia de guardar fidelidade às inclinações manifestadas mal ainda saíra da adolescência, e persistir naquele amor ao estudo que lhe proporcionou vasto cabedal de conhecimentos em vários ramos da ciência. Dotado de extrema facilidade para aprender línguas, traduziu o latim, o grego, o francês, o inglês, o italiano, o alemão e o castelhano e sabia algo de tupi-guarani […]“
Não se pode deixar de destacar, por fim, o perfil biográfico traçado pelo seu conterrâneo, Astolfo Serra, em seu estudo sobre A balaiada, tomando sua personalidade em várias dimensões e nos fornecendo esta eloquente imagem:
“Figura muito curiosa da história política do Maranhão é, sem dúvida, a de Estevam Rafael de Carvalho.
Conjugavam-se-lhe na personalidade predicados os mais chocantes. À austeridade impressionante de sua vida pública unia um temperamento irrequieto e combativo, atirando-se à luta de corpo aberto, com um desprendimento político de verdadeiro quixote… Hoje, um século depois, estudando-se-lhe a vida, não é possível ao historiador sincero fugir ao dever de proclamar-lhe as virtudes morais e cívicas, que foram maiores do que os seus mil e muitos pecadilhos de líder do povo.“
Estêvão Rafael da Carvalho faleceu em 26 de março de 1846, em São Luís, aos 38 anos de idade.
Por Lourival Serejo
(*) A data de seu nascimento é a mesma de seu batismo. Talvez por ainda não existir cartório na cidade ou pela importância do papel da Igreja na época, era muito comum usar-se o batistério como registro de nascimento, conforme consta em sua documentação de matrícula na Universidade de Coimbra.