Frei Antônio Bernardo da Encarnação e Silva

Lápide do patronoParecem quase incompreensíveis, ao mundo globalizado e materialista do século 21, o despertar para a vida e os desafios que se apresentavam a um jovem idealista nascido na pequena Vila de Viana, no final do século 18, quando o país se encontrava em pleno processo de colonização e o Maranhão ainda abrigava grande número de populações indígenas como, aliás, quase todo o território nacional.

Vivia-se um tempo em que a Igreja detinha influência em todos os setores da sociedade e que as pessoas guiavam suas vidas segundo a doutrina católica. Dessa forma, fortalecida pelo expressivo número de vocações sacerdotais, e preocupada com “a salvação de tantos pagãos selvagens”, a Igreja atuava intensamente no trabalho de evangelização dos índios, ministrando-lhes os sacramentos e ensinando-os a ler e escrever, contribuindo assim para a sua “civilidade”.

É nesse contexto que veio ao mundo Antonio Bernardo da Encarnação e Silva, assim batizado por ter nascido a 13 de junho (dia consagrado a Santo Antonio) de 1799. Criado em tal realidade e certamente entusiasmado pelo trabalho desenvolvido pelos religiosos junto às comunidades indígenas, o jovem vianense ingressou no Convento do Carmo, em São Luís, decidido a tornar-se um frei carmelita. Desse modo, aos 20 anos, já se encontrava cursando o 1° ano de Teologia na conceituada Universidade de Coimbra, conforme registra os anais daquela secular instituição de ensino. Entre os alunos ali matriculados para o ano letivo de 1819, consta o aluno “Antonio Bernardo da Encarnação e Silva, Carmelita Calçado, filho de João Antonio da Silva, natural de Viana, Província do Maranhão.”

Doze anos depois, em 1831, já radicado em São Luís, outro importante documento registra sua atuação na cidade: a nomeação do Doutor Frei Antonio Bernardo da Encarnação e Silva como primeiro diretor da Biblioteca Pública do Estado (posteriormente denominada Benedito Leite), criada dois anos antes, mas oficialmente inaugurada em 3 de maio daquele ano. O cargo de diretor da segunda biblioteca mais antiga do país (depois da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro) foi ocupado pelo religioso vianense por quatro anos, período do qual consta o 1° ofício emitido ao Governo do Estado, solicitando uma sede própria para aquela instituição.

No âmbito eclesial, como bacharel em Teologia, Frei Antônio Bernardo logo se destacou pela oratória e inteligência, conquistando o respeito e a admiração de seus superiores. Foi Mestre Escola da Catedral do Maranhão, tendo sido também nomeado como Governador do Bispado pelo então bispo diocesano Dom Frei Carlos de São José e Sousa, além de assumir ainda a função de Examinador Sinodal (responsável pelo acompanhamento das assembleias regulares dos párocos e padres auxiliares, convocadas pelo bispo local).

Paralelo à vida religiosa, Frei Antonio Bernardo também se dedicou ao magistério, alcançando prestígio como professor de Retórica e Poética do Liceu Maranhense por vários anos. Na vida pública, o nome do intelectual vianense igualmente alcançaria o reconhecimento de todas as camadas sociais, reconhecimento este que o conduziria a um mandato de deputado provincial e depois de deputado geral (respectivamente, deputado estadual e federal da atualidade).

Em 9 de abril de 1840, o Livro de Sessão da Assembleia Geral Legislativa registra a presença do Dr. Antonio Bernardo da Encarnação e Silva, deputado geral pelo Maranhão, na Sessão Imperial de Abertura dos trabalhos daquele ano, quando o regente Pedro de Araujo Lima representou a pessoa do imperador, D. Pedro II.

Digno de nota é o fato de que outro ilustre intelectual vianense o antecedeu no mesmo cargo, ou seja, Estêvão Rafael de Carvalho também havia representado brilhantemente o Maranhão na Assembleia Geral, no Rio de Janeiro, durante a legislatura de 1834 a 1837.

Antonio Bernardo da Encarnação e Silva faleceu, em São Luís, aos 49 anos, no dia 25 de agosto de 1848. Ao contrário do que se poderia supor, sendo ele um Frei Carmelita, seus restos mortais repousam na sacristia da Catedral da Sé e não na Igreja do Carmo. É que, ao falecer, o religioso encontrava-se em plena atividade como Governador do Bispado e – conforme escrito em sua lápide – “por disposição testemunhar sua aqui jaz também seu pai, João Antonio da Silva.”

A AVL prestou merecida homenagem à memória deste homem, que se tornou um dos intelectuais mais insignes já surgidos no cenário cultural maranhense, ao elegê-lo como patrono da Cadeira n° 7.

 Por Luiz Alexandre Raposo