Onofre Fernandes

Nascido no dia 6 de fevereiro de 1906, Onofre era um dos nove filhos do casal Montano Evaristo Fernandes e Maria da Luz Fernandes. Ao lado dos dois irmãos (Benedito e Manoel) e das seis irmãs (Jerusa, Neusa, Sebastiana, Maria José, Maria de Nazaré e Maria do Socorro) o menino viveu sua infância e adolescência no período em que Viana era conhecida e respeitada, em todo o Estado, como a “Cidade dos Músicos”.

Dessa forma, como acontecia com quase todos os garotos da época, cedo se iniciaria na arte musical. Enquanto cursava o primário pela manhã, estudava música, à tarde, com o Maestro Miguel Dias, no velho sobrado da Praça da Matriz. Segundo América Dias, filha do famoso maestro, o pequeno Onofre iniciou o aprendizado musical tocando bombardino, optando depois pelo trombone de vara lisa.

Aos 21 anos de idade, em 1927, seguindo também o costume entre os jovens músicos vianenses daqueles idos, Onofre transferiu-se para São Luís, a fim de ingressar no 24º Batalhão de Caçadores. Como a profissão de músico ainda não havia sido reconhecida por lei, para o Exército (ou a Polícia Militar) convergiam gerações inteiras de novos músicos em busca da segurança profissional que somente uma instituição militar lhes podia oferecer.

Aceito pelo Exército brasileiro, o jovem Onofre não demorou a ser promovido a músico de 3ª classe (nesse tempo, ainda não eram atribuídos os títulos de cabo, tenente etc. para os músicos que abraçavam a carreira militar). Em 1930, transferiu-se para o 26º BC na vizinha capital do Pará. Dois anos depois, participaria da famosa campanha constitucionalista de 1932, em São Paulo, antes de ser escalado para servir em Corumbá (atual Mato Grosso do Sul), já como músico de 2ª classe.

No início da década de 40, promovido novamente, agora como músico de 1ª classe, foi designado para servir no Rio de Janeiro, de onde retornaria à capital paraense, pouco tempo depois, para fixar ali residência definitiva. Antes de passar para a reserva remunerada, em 1954, já como 1º tenente, Onofre Fernandes teria seu talento musical mais uma vez reconhecido ao ocupar o cargo de contra-mestre da Banda de Música do 26º Batalhão de Caçadores.

Casado por duas vezes, o músico e militar geraria uma prole de oito filhos. Em 1947, quando se uniu em segundas núpcias, com D. Maria de Lourdes Cantuária Fernandes (com quem viveu até a morte), já era pai de Hidemburgo, Heloísa e Onofre Filho. Com a segunda esposa teria mais cinco filhos: Bethowen Leopoldo (falecido), Mirian, Vera, Haroldo Leopoldo e Guilherme Leopoldo.

Sem esquecer nunca de exercitar o dom musical, ao se aposentar, o veterano maestro pôde dedicar-se mais à família e às pequenas tarefas que lhe davam prazer, como plantar legumes e hortaliças ou criar patos e galinhas. Solidário, era estimado pelos amigos e vizinhos. Sabia aplicar injeções e fazer curativos em pequenos ferimentos. Ensinou música ainda para três cunhados (que, a seu exemplo, também fizeram carreira como músicos do Exército) e três filhos (Miriam, Bethoween e Haroldo).

Sem conseguir realizar o velho sonho de ver gravada uma de suas músicas, Onofre Fernandes faleceu em Belém, no dia 17 de maio de 1977, aos 71 anos de idade, vítima de enfarto, depois de ter escapado de dois AVCs. Sua última visita à terra natal aconteceu em 1949. Dois de seus irmãos, Benedito (Seu Mano) e D. Socorro Fernandes Gouveia, ambos falecidos há poucos anos, eram muito conhecidos e estimados em Viana.

 Autor de vasta obra musical, onde se destacam inúmeras valsas, dobrados, sambas-choro, marchas e boleros, Onofre Fernandes deixou duas composições dedicadas à cidade que lhe viu nascer. A primeira é uma valsa nostálgica, datada de março de 1927 (provavelmente quando de sua partida), intitulada “Despedida de Viana”, cuja letra inicia-se assim: “Adeus, minha santa terra/ Eu levo tristes paixões/ Em deixar minha Viana querida/ Pais, amigos e irmãos...” A segunda, composta em Belém e datada de 05/02/1957, é o bolero “Quando me recordo de Viana” composição que bem atesta a maturidade musical atingida, por esse tempo, pelo experiente maestro. Segundo depoimento da viúva, D. Maria de Lourdes Fernandes, era essa sua composição preferida, pois sempre a cantava ou tocava nas horas vagas.

No livro “A Grande Música do Maranhão” do Padre João Mohana, encontram-se relacionadas nada menos que 42 composições de autoria de Onofre Fernandes. Todas essas partituras fazem parte, atualmente, do acervo musical “João Mohana”, à disposição dos pesquisadores no Arquivo Público do Estado do Maranhão, situado à Rua de Nazaré, nº 218 (centro histórico de São Luís).

A Academia Vianense de Letras, ao escolher o maestro Onofre Fernandes como patrono da Cadeira de nº 17, prestou merecida e digna homenagem a mais esse inquestionável ícone da música vianense.

Por Luiz Alexandre Raposo