Padre Manoel Arouche

Passados mais de 50 anos de seu desaparecimento, o nome do Padre Manoel Nunes Arouche, cognominado o “Uirapuru da Eloqüência” pelo acadêmico João Mendonça Cordeiro, continua inapagável na memória dos vianenses e na história da Oratória Sacra do Maranhão.

Nascido em 21/01/1906, na vizinha São Vicente Férrer, o futuro padre era filho de Mariano Faustino Arouche e Maria Estefânia Nunes Arouche. Depois de concluir o curso primário em sua cidade natal, transferiu-se para São Luís, a fim de cursar Humanidades, Filosofia e Teologia no Seminário Santo Antonio. Ordenado em 8/12/1929, aos 23 anos de idade, o jovem sacerdote exerceria durante o primeiro ano de trabalho a função de secretário da Câmara Eclesiástica, em São Luís, até ser nomeado como vigário da Igreja de N. S. da Conceição de Viana, para onde veio em 1931.

 Monsenhor Arouche, como ficaria conhecido por todos, não demorou a conquistar o respeito e a simpatia do povo vianense. Colérico e carismático, pesavam a seu favor a indiscutível vocação para o pastoreio de almas, o espírito nato de liderança e o dom excepcional da oratória. Seus sermões comoviam e encantavam cultos e incultos, jovens e velhos, homens e mulheres. Dizem os mais antigos, que ouvir uma homilia do Monsenhor Arouche era como se abastecer na mais pura e profunda fonte de fé cristã.

Seu apostolado em Viana, no entanto, não se restringiu somente à pregação evangélica. Preocupou-se sobremaneira com a educação da juventude, a ponto de criar um curso comercial noturno para os jovens já engajados no comércio local e posteriormente fundar a Escola Paroquial, Dom José Delgado, para o ensino do curso primário.

Do curso comercial surgiriam antigos expoentes do comércio vianense, como os ex-prefeitos José Mendes Pinheiro e Lino Mousinho Lopes. Já no curso primário, os alunos mais aplicados recebiam o incentivo e o necessário apoio para continuarem os estudos no Seminário Santo Antonio, em São Luís. Na época do Monsenhor Arouche, entre todas as cidades do interior do Estado, Viana conseguia manter o maior número de seminaristas internos naquela importante casa de formação. Tudo custeado pelas doações arrecadadas pela Associação de São José, junto aos comerciantes e famílias tradicionais do município.

Homem de elevada cultura e rara inteligência, Monsenhor Arouche sabia cercar-se de doutores, de estudantes e do povo simples sem instrução. Padre João Mohana dizia que, quando adolescente, costumava sentir inveja ao presenciar o líder religioso trocando livros com o Juiz de Direito, Almada Lima, com a Promotora Pública, Celeste Matos, ou com a jovem Josefina Haikel. Uma das amizades pessoais mais notórias do Monsenhor foi com o pedreiro e excelente violonista, José Mendes, de quem era fã incondicional.

Exemplos de autenticidade cristã não lhe faltaram em vida. Era comum o religioso receber, em casa, mendigos e até mesmo leprosos, ofertando-lhes abrigo e alimentação por vários dias. Monsenhor Arouche chegou a hospedar, inclusive, as duas loucas mais conhecidas da cidade: Januária e Libânia. Quando seus paroquianos, preocupados com sua segurança, procuravam lhe dissuadir da tresloucada iniciativa, ele costumava responder brincando: “Para um louco, basta outro louco!”

Um fato inusitado, acontecido durante os tradicionais festejos de São Sebastião e que teve como ator principal o Padre Manoel Arouche, acabaria fazendo parte da memória coletiva vianense. Num janeiro de determinado ano, no qual o inverno não dava nenhum sinal e a seca nos campos já se tornava preocupante, no momento em que a procissão se recolhia em frente à igreja, o padre aproveitou para proferir um de seus eloquentes sermões, passando um enfático “carão” no santo. No meio daquela retórica oração, formou-se um temporal que, dizem, desabou sobre a cidade, trazendo chuva forte pelo resto da noite.

No dia 24/10/1958, quando o Monsenhor Arouche faleceu de infarto, aos 52 anos (dos quais 27 empregados a serviço da comunidade vianense) abriu-se uma lacuna impreenchível na vida religiosa local. É ponto pacífico, para muitos, que a história do catolicismo vianense se divide em dois períodos distintos: antes e depois da passagem de Padre Manoel Arouche por Viana.

A Academia Vianense de Letras prestou, assim, justa e merecida homenagem ao eleger o Monsenhor Arouche como um de seus patronos.

Por Luiz Alexandre Raposo