Raimundo Nogueira

Filho de Antônio Francisco Nogueira e de Etelvina Rosa Soeiro Nogueira, de tradicionais famílias vianenses, Raimundo João Nogueira nasceu em Viana a 8 de setembro de 1866 (um ano antes da famosa insurreição de escravos), quando a cidade vivia o auge de seu apogeu econômico.

Aos 23 anos, em 30 de novembro de 1889 (quinze dias após a Proclamação da República brasileira), Raimundo Nogueira casou-se com a jovem Leopoldina Rosa de Carvalho e com ela residiu à Rua Coronel Campelo, esquina com a Alteredo Nogueira, em casa própria, grande e confortável, de vasto quintal com árvores frutíferas e estrebaria para cavalo-de-sela, privilégio, na época, de pessoas abastadas e de nível social destacado. Do casamento nasceram os filhos: Alteredo, Messias Augusto, Raimundo Nonato, Maria da Graça, Etelvina, Antônio Francisco, Margarida Sabóia e Benedito.

Raimundo Nogueira foi capitão da Guarda Nacional da Comarca de Viana, título concedido pela 3ª Delegacia da comissão de Organização das Forças de 2ª Linha, do Ministério da Guerra, a cidadãos de ilibada conduta, comprometido com a defesa da Pátria e identificado com os lídimos ideais republicanos e democráticos.

Na vida pública foi Fiscal de Consumo, versão antiga de Fiscal de Tributos federais, do Ministério da Fazenda. Rigoroso cumpridor da Lei e zeloso da função que exercia, jamais, todavia, foi intransigente, quando seu discernimento assim recomendava. No exercício do cargo, viajou pelo Maranhão, do litoral ao sertão, onde angariou amigos graças ao exemplo de lisura e ao respeito que, reciprocamente, o fez respeitado. A 7 de julho de 1930 foi transferido de Viana para a cidade de Cajapió, ficando em seu lugar o agente fiscal Juvenal Bastos.

Mundico Nogueira, como era carinhosamente chamado pelos conterrâneos, fez da bondade e da honestidade a bandeira de seu comportamento, tanto como pacato cidadão quanto na condição de homem público. Viveu para a família e para os concidadãos, amando a arte da música, cujo aprendizado incentivava entre os jovens discípulos. Repleto de sensibilidade de artista que lhe inundava a alma, foi maestro, compositor e músico – um virtuoso ao dedilhar qualquer instrumento de corda de sua época e de seu lugar. Sua memória se eternizou no enorme volume de composições musicais – eruditas, populares e sacras – por ele produzidas. É de se lamentar que a maioria, pelo menos aparentemente, se tenham perdido. Daquelas de que se tem notícias, apenas cinco se encontram relacionadas no Inventário do Acervo João Mohana (Partituras, pág. 53, item 142) do Arquivo Público do Estado do Maranhão. Ali estão catalogadas, sob os números de 1485/95 a 1489/95, as seguintes peças sacras: Kirie e Pater; Tantum Ergo; Hino à recepção de Dom Helvécio e Ó Salutaris Hostia (esta última datada de Viana, 24/6/1911 e composta para vozes – 1º sopranos e tenor; instrumentação – 1º e 2º clarinetes, 1º e 2º violinos e flauta). Fora do estilo sacro, integra o mesmo acervo a Sinfonia 1º Movimento. Compôs também a letra e música do Hino a São Sebastião e do Hino a São Tarcísio. Durante anos, encarregou-se dos festejos em louvor a Bom Jesus da Coluna, na Igreja de São Benedito.

O filho primogênito, Alteredo Nogueira, tornar-se-ia comerciante bem –sucedido e destacado vereador, merecendo assim dos dirigentes municipais significativa homenagem póstuma ao atribuírem seu nome à rua que fazia esquina com a antiga residência da família.

Por tudo isso, Mundico Nogueira evoluiu e contribuiu para o engrandecimento da cidade que lhe serviu de berço, destacando-se, entre seus contemporâneos, pelo trabalho em favor da música e do progresso desta terra que tanto amou e irrigou com seu suor.

Raimundo João Nogueira morreu, aos 74 anos, na cidade natal, no mês consagrado a Nossa Senhora, de quem era fervoroso devoto, aos 31 de maio de 1941 (sábado) e, no dia seguinte, foi sepultado no Cemitério 2 de Novembro.

Em justo reconhecimento à sensibilidade, inteligência e trabalho desse homem, a Academia Vianense de Letras o elegeu como patrono da Cadeira de nº 25.

Por José Henrique Nogueira de Carvalho e Leonel Alves de Carvalho 

Excetuando-se pequenas inserções referentes a fatos históricos relevantes (no intuito de melhor situar o leitor com relação à época vivida pelo biografado), todo o texto acima foi transcrito do livro “Cinco gerações de Raimundo João Nogueira” de autoria dos escritores acima relacionados.