Travassos Furtado

Raimundo Nonato Travassos Furtado nasceu em Viana, no dia  12 de junho de 1912. Filho primogênito do casal Raimundo Zacarias Furtado e Raimunda Amélia Travassos Furtado, o menino teria uma infância igual aos garotos de sua época, se não fosse sua visível inteligência e indisfarçável sede de saber.

Matriculado na Escola Municipal de Viana, não demoraria a se destacar e ser apontado, pelos professores, como o melhor aluno daquela instituição. Encarava os estudos com interesse e esmero próprios da determinação e da força de vontade que lhe acompanhariam por toda sua existência. Habituado à boa leitura, o garoto também se deixou fascinar pelo mistério do espaço sideral, pontilhado de estrelas, das noites escuras de uma Viana que ainda não conhecera a energia elétrica. Com a ajuda dos irmãos e colegas, construía jiraus altos no fundo do quintal de sua casa, para poder melhor observar e estudar as constelações de nossa Via Láctea.

Aos 15 anos tornou-se aluno do famoso Instituto Dom Francisco de Paula. Nessa mesma época, assessorado pelos amigos Pery Noronha e José Salgado Aquino, criou “A Centelha”, um pequeno jornal que circulava aos sábados e que logo ganharia aceitação e simpatia da sociedade vianense. Dois anos depois, infelizmente, ao transferir-se para a capital, a fim de continuar os estudos, o periódico encerrou suas atividades.

Em São Luís, o jovem Raimundo matriculou-se no tradicional Liceu Maranhense, onde se bacharelou em Letras. Em seguida, concluiu o curso de Contador, pela extinta Escola do Comércio. Na nova cidade, abraçaria definitivamente a carreira jornalística, já iniciada em Viana. O primeiro emprego, acontecido aos 19 anos, foi o de auxiliar de revisão no “Diário do Povo”. Depois passaria a trabalhar em outro famoso jornal da época, de nome “O Combate”. Neste segundo vespertino, experimentaria de fato não somente a grandeza, mas também os infortúnios da profissão. Como Redator Secretário e, cinco anos depois, Redator Chefe desse importante veículo de informação, durante os tumultuados anos que antecederam à ditadura de Getúlio Vargas, enfrentou todo tipo de calúnia e perseguição, escapando inclusive de ser agredido fisicamente ou até mesmo de morrer. Tudo pela “luta gloriosa na trincheira da democracia”, como o próprio Travassos Furtado costumava enfatizar.

Com a instalação do Estado Novo, os jornais de oposição ao governo foram fechados. Forçado pelas circunstâncias políticas, em outubro de 1937, aos 25 anos de idade, o jovem jornalista precisou trocar de profissão para poder sobreviver. Conseguiu um novo emprego como chefe de escritório da firma Matos Aguiar Ltda., que comercializava a exibição de filmes para os principais cinemas de São Luís. Assim, durante nove anos, levou uma vida pacata, dedicando-se ao trabalho e aos passatempos preferidos: estudar física, matemática, astronomia e escrever poesias. Foi nesse período que se uniu ao grande amor de sua juventude: no dia 30 de dezembro de 1944 casou-se com Maria da Conceição Araújo Furtado (Concita), com quem compartilharia uma caminhada saudável e feliz até o final de suas vidas.

Dois anos depois, com o final da ditadura e o retorno das eleições diretas no país, sua vida daria uma nova guinada. No dia 26 de abril de 1946 recebia um telegrama de Viana, enviado pelo Monsenhor Arouche,’ solicitando sua presença urgente na cidade. O motivo do chamado era que as lideranças políticas locais desejavam colocar um representante vianense na Câmara Legislativa Estadual, para defender os interesses da região. E o escolhido para tal missão era ele, o jovem intelectual filho da terra.

Travassos Furtado foi eleito Deputado Estadual, pelo Partido Republicano, naquelas eleições de 1947. Devido ao trabalho sério, atuante e compromissado com os interesses do povo, seria reeleito por mais quatro mandatos consecutivos. Ao todo, foram cinco legislaturas e vinte anos empregados na árdua luta pelo ideal de um Maranhão mais justo e desenvolvido.

Como os cometas e as estrelas cadentes, que tanto lhe fascinaram em vida, ao falecer, em 1990, aos 78 anos de idade, Travassos Furtado havia traçado uma esteira de luz nos céus vianenses. Não bastasse o singular testemunho de vida, foi um brilhante homem das letras. Poeta atuante do Momatro (Movimento Maranhense de Trovadores), escreveu inúmeras poesias, algumas delas reunidos no livro “Poemas de Estrelas”, lançado pelo Sioge em 1985. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Travassos é autor do autobiográfico “Minha Vida, Minha Luta” e de vários outros trabalhos inéditos, como “O Infinitivo na Língua Portuguesa”, “Contos e Lendas do Maranhão”, “ltamira” (romance) e Brasil República (importante estudo sobre a história da República brasileira) que até hoje reclamam publicação.

Por Oswaldo Pereira Gomes – Advogado, professor e escritor, o General Oswaldo Pereira Gomes ocupa a Cadeira de nº 14 da AVL, patroneada por Travassos Furtado.